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Fala-se tanto em democracia e os 40 anos da redemocratização com a posse de José Sarney não recebeu o devido destaque e nem as merecidíssimas homenagens.
Sarney só pôde ter a relevância que teve na nossa história republicana pelas imensas qualidades pessoais que possui. Sem elas, não teria tido as condições de conduzir a transição em ordem e paz.
As inesperadas doença e morte de Tancredo Neves colocaram a responsabilidade de tocar a reintegração da classe política nos destinos da Nação nos ombros daquele que representava a marca da conciliação nacional, pois vinha da dissidência do partido de sustentação do regime que passava,por projeto próprio, o poder.
O momento pedia o que Sarney tinha como pessoa e homem público: tolerância, diálogo, habilidade, responsabilidade, correção e patriotismo. Desprovido de ambições e vaidades, nunca perdeu a simplicidade do intelectual que o destino levou à grande carreira na vida pública.
A história não demorou muito a conduzir ao esquecimento aqueles que tentaram assumir o protagonismo principal daqueles anos, voltados para a mídia e sob total ausência de espírito público.
Feliz nosso país de contar até hoje com a sabedoria de José Sarney, referência do bom senso nos momentos graves. Todos os presidentes seguintes, em algum momento, contaram com seu aconselhamento.
Uma grande frustração da esquerda é que a redemocratização foi toda ela construída por oriundos de 64 ou políticos centristas. Entre os quais Aureliano Chaves, Marco Maciel e António Carlos Magalhães.
A abertura foi de Figueiredo, que fez anistia ampla geral e irrestrita, e que deveria ser recíproca. E acabou com o bipartidarismo, promoveu diretas para governadores. Tancredo foi eleito governador de Minas e arquiteto da transição incorporando dissidentes do regime como Sarney, que fez seu vice. Brizola eleito no Rio e Arraes em Pernambuco.
A Constituinte só não foi um desastre total pela relevância de experientes parlamentares do centro democrático, como Roberto Cardoso Alves, Milton Reis, Ricardo Fiúza, António Carlos Konder Reis e Prisco Viana, todos identificados com o presidente José Sarney.
Qualidade do estadista é saber se cercar bem. E Sarney soube escolher por critérios do interesse público.
Publicado em: Jornal O Dia 10/03/25