Embora os acordos entre Portugal e Brasil tenham evoluído muito nas últimas décadas, a CPLP não ter ganhado a relevância sonhada por Mário Soares e Itamar Franco, sob a inspiração de José Aparecido de Oliveira, a lembrança da lusitanidade no país é imensa. A comunidade portuguesa vem diminuindo, com maior presença das classes médias no pós 25 de abril, em que parte da segunda geração de exilados ficou no Brasil. Mas permanece os traços culturais, na literatura, na gastronomia, nas igrejas e conventos dos séculos XVII, XVIII e XIX, na arquitetura de centenas de palácios, edifícios públicos e sede de fazendas em São Paulo, Estado do Rio, Minas Gerais e Goiás sobretudo.
O Estado do Pará, no Norte, na Amazônia, apresenta uma curiosidade na nomenclatura de suas cidades, com forte presença de nomes de conselhos e cidades portugueses. Belém é a capital, e mais Santarém, Bragança, Alenquer, Óbidos, Almeirim, Oeiras do Pará, Melgaço, Chaves, Ourém, Aveiro, Colares e Faro. A região norte foi a que guardou mais a lembrança portuguesa, uma vez que recebeu poucos imigrantes de outras partes do mundo. No Amazonas, um pouco de japoneses no início do século passado e de judeus sefarditas, a maioria oriundos do Marrocos.
Na cidade do Rio de Janeiro, começa a ganhar relevo essas marcas, desde as calçadas de Copacabana, hoje espalhadas pela cidade, às igrejas do centro da cidade, aos antigos palácios da nobreza e aos sobrados bem portugueses conservados e, hoje, tombados pelo Patrimônio Histórico. E marcas contemporâneas como os hotéis Pestana, Portobay e Villa Galé. A TAP é a empresa aérea com maior ligação do Brasil com a Europa, sem pandemia é claro.
Mas a joia da coroa é mesmo a sede do Real Gabinete Português de Leitura, no centro, na Rua Luís de Camões, que é das mais completas construções no estilo manuelino – gótico-renascentista –, que, no Brasil, só tem similar na cidade de Santos. Uma referência arquitetônica, listada entre as quatro mais bonitas bibliotecas do mundo. Foi inaugurado pela Princesa Isabel, com projeto do arquiteto português Rafael Silva Castro e abriga mais de 300 mil livros, entre os quais a preciosa edição de Os Lusíadas de 1572. As primeiras reuniões da Academia Brasileira tiveram lugar ali. Vale uma visita pela Internet a este monumento histórico tão fortemente português. Como referência de Portugal, da sua cultura, foi em seu salão monumental que ocorreu o velório do professor Marcelo Caetano.
Existe muita coisa a ser preservada e divulgada, não fosse essa orientação da nova esquerda mundial de procurar apagar o passado das nações, das religiões, das culturas. Curiosamente, a nova pauta destes grupos é buscar na afrodescendência uma origem maior do que a europeia, portuguesa em particular. Logo no Brasil miscigenado, com um povo majoritariamente fruto da maior integração racial do mundo, o luso-tropicalismo de Gilberto Freyre. Temos uma forte influencia africana, mas a base da cultura, da religião, é portuguesa, como são também os angolanos de tabto sucesso como Mia Couto e Aqualusa.
Esse é o mesmo grupo integracionista atual, que ainda procura negar a pandemia e a validade das vacinas, combate o isolamento que vem salvando vidas. Que mundo!!