Getting your Trinity Audio player ready...
|
O poder, por vezes, depois de obtido, se torna enfadonho. É o que parece estar acontecendo com Eduardo Paes. Dizia que adorava ser prefeito do Rio, fez dois mandatos realizadores, marcou com suas digitais a cidade com obras inquestionáveis em sua importância, como a zona portuária, os túneis 450 anos e Prefeito Marcello Alencar. Começou a Avenida Brasil, que ficou parada no governo Crivella e ele ainda não recomeçou.
Eduardo Paes não é o governador do Rio, pois se meteu na política menor ao lado de Lula, agredindo seu eleitorado de origem, e teve comentários infelizes divulgados. E nunca mais retomou a uma posição coerente. Foi eleito para este mandato não apenas pelo passado, mas muito pelo desastre que foi a administração Crivella.
Ao que tudo indica, eleito, passou a preferir as articulações políticas, a cortejar uma esquerda que não tem nada com a sua formação pessoal, política ou ideológica, a ponto de lançar um candidato que não vai dar nem para saída na disputa que se avizinha. E agride sua base de origem com apoio ao ex-presidente Lula. Mais sábio seria se distanciar desta disputa que envolve dois personagens, no mínimo, polêmicos. O mesmo olhar para o futuro que inspirou as obras dos mandatos anteriores deveria ter para o seu futuro político.
É uma pena para a cidade esta falta de apetite para tocar o projeto de revitalizar o centro, remover a população de rua, devolver a cidade a seus moradores. Entrosar a Guarda Municipal com a PM e o Rio Presente. Ganharia visibilidade nacional e atenderia a seu ego, que se verifica agora ser grande, embora até então estivesse oculto pelo sorriso simpático e o trato cordial. Eduardo, hoje, é um político irritadiço, impaciente e sem discurso. E, assim, a simpatia e a boa educação acabam anuladas. Perdeu o élan, como se dizia.
Conhecer o passado, avaliar onde se errou ou acertou nos outros mandatos, poderia ser útil a ele. Afinal, a postura distante, arrogante, fria,
a atenção voltada apenas para o aplauso imediato, que engana governantes e empresários de sucesso, custou caro a muitos. Ele não precisa ir longe para verificar que o preço pago na apresentação da conta é alto. Tem ex-governante que curte o desprezo e o repúdio da população, apesar de usufruir dos benefícios da impunidade. Como tem exemplos, e são muitos, dos que a perda do poder não afetou o reconhecimento, o respeito e a estima da sociedade.
O Estado vive um grande momento. O discreto governador marcha para uma reeleição que pode ocorrer até no primeiro turno. Eduardo Paes só teria a ganhar se estivesse aliado a este projeto. Todos sairiam ganhando.
Não se pode negar ao prefeito as qualidades de um bom quadro da política local. O que torna mais lamentável ainda seu enfado, que pode lhe custar o ostracismo ao fim do mandato. Paciência para o Legislativo ele não tem.
Publicado em : Jornal Correio da Manhã