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A Editora Batel, de Carlos Barbosa, deve lançar em breve a segunda edição revista da biografia de Lygia Lessa Bastos, de Ana Arruda Callado, que, por 40 anos, foi uma política relevante e exemplar do Rio de Janeiro. Quando se fala em feminismo, nas mulheres brasileiras, pouco se referem às grandes presenças na vida pública, em todos os partidos e tendências. Lygia, por exemplo, foi a segunda mulher a integrar a bancada do Rio de Janeiro, eleita em 1974. Antes, fora eleita Júlia Steinbruch, no lugar do marido, senador Aarão Steinbruch, que perdera seus direitos políticos no AI 5.
Lygia foi vereadora, deputada estadual e federal, na UDN e depois Arena e PDS. Ligada ao esporte, professora de educação física, foi do Tijuca Tênis Clube, do Vasco da Gama e de entidades de mérito como a Cruz Vermelha. Foi uma filha de dedicação integral ao pai, oficial do Exército, o que teria determinado ter ficado solteira.
Naqueles anos, exerciam mandatos no Rio outras mulheres admiráveis pela dedicação à vida pública, como Adalgisa Nery, também com um estudo de Ana Arruda, Yara Vargas e Sandra Cavalcanti, de posições distintas, mas todas com muito mérito. Antes, foi Tetrá de Teffé, suplente do senador Mozart Lago, do Rio, que foi um pioneiro na defesa dos direitos da mulher, desde a Constituinte de 34 a que pertenceu.
Ana Arruda Callado é autora de excelente biografia de Maria Martins, a grande artista plástica, embaixatriz marcante na nossa diplomacia, mulher de Carlos Martins, que foi embaixador nos EUA durante toda a guerra. Outra grande brasileira, sem mandato, com sua vida contada em texto da mesma autora foi Darcy Vargas, a impecável mulher de Getulio Vargas. A própria Ana Arruda é uma mulher relevante, jornalista, escritora, professora respeitada, membro do PEN Clube e dirigente da ABI. Poderia ir para a ABL, onde seu marido Antonio Calado teve assento.
Curioso se constatar que a presença da mulher na política se deu no Brasil somente após a Constituição de 46. E a primeira senadora foi, em 74, a amazonense Eunice Michiles, da Arena. E, embora com posições muito definidas, nunca perderam a candura natural nas mulheres e nenhuma delas resvalou para qualquer tipo de grosseria ou intolerância. São exemplos para as atuais políticas, nem todas comportadas como uma boa pratica democrática pede. Intolerância, agressividade, destempero não combinam com democracia. E muito menos com nossas mulheres.
Publicado em: Jornal Correio da Manhã