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Um olhar sobre a história dos povos e nações mostra que o mundo ocidental e judaico-cristão foi construído por uma elite aristocrática, nas monarquias, em que prevaleciam valores éticos e morais corretos. A revolução industrial acabou provocando um ingrediente social no comportamento dos detentores do poder, fosse ele público ou privado. A relação com as classes operárias evoluiu e a prestação do serviço público veio crescendo na proteção dos menos favorecidos. No comando, sempre pessoas com base em princípios da justiça e da razoabilidade. Embora muitos fossem nobres ou da alta burguesia, o sentido verdadeiro de elite e aristocracia desde o início incorporou aqueles de origem humilde que adquiriram saber e comportamento social elevado, cultura e bom gosto. Muitos notáveis dos séculos XVIII e IXX não eram fidalgos.
Os movimentos de massa nunca trouxeram bons exemplos, que não preocupação pela narrativa positiva de tempos de barbárie, crueldade. Até hoje a França comemora o movimento que implantou anos de terrorismo, assassinatos em massa, cujo ponto maior foi o regicídio que veio a ser repetido na Rússia quando da implantação do comunismo. Muitos franceses, boa parte da mocidade mundial, pensa que a chamada Revolução Francesa foi a legenda da igualdade, liberdade e fraternidade. Assim como muitos sinceros cristãos e monárquicos criticam Napoleão, cujo grande mérito na história foi justamente pôr fim a influência dos remanescentes dos anos sombrios., que compensam os erros.
Os comunistas que dominam certos setores das sociedades ocidentais encontram surpreendente acolhida, aceitação, em pessoas que por formação não poderiam concordar com regime marcado por milhões de execuções, falta de liberdade e muitas vezes de pão. Mas acontece que quando intelectuais, aplaudidos por uma burguesia que trocou o saber pelo ter, babam de admiração por genocidas como Fidel Castro, não sofrem contestação ou um mínimo de coerência ao falar em liberdade e desigualdade. Hoje justificam a invasão da Ucrania, a barbárie do HAMAS, silenciam com a crise cubana e farsa eleitoral venezuelana.
A alienação da burguesia, que comanda a economia hoje, deixou a política a cargo de gente menor, populistas ou militantes de esquerda, sempre de jovens que nunca trabalharam e viveram de mesadas de pais burgueses. Com a informação mais acessível e o testemunho de quem já viveu nos países comunistas, o limite eleitoral destes grupos é curto. O espaço maior, abandonado pelas elites aristocráticas, passou a ser ocupado nas democracias por lideranças populistas de quinta categoria. E assim fazem agora os ventos sobrarem mais para uma esquerda moderada, que nunca vai deixar de ser esquerda. Raros grandes empresários, que pensam a política e a sociedade, com as maiores empresas sem donos definidos e entregues a executivos sem compromissos com o capitalismo mas com os bônus que recebem.
Como é que uma democracia próspera como a americana tem uma liderança como Trump para enfrentar o esquerdismo irresponsável? E o Brasil com Bolsonaro, que, arrogante e ignorante, permitiu a vitória de Lula e todo um passado lamentável? E o partido que se apresentou como alternativa a esquerda em Portugal ignora força de um milhão de portugueses por preconceito e covardia?
Os partidos que enfrentam a esquerda carecem de um projeto econômico nítido, deixando a esquerda democrática crescer e namorar socialistas e até comunistas, ausente e desinformada. Precisou que os escabrosos casos de corrupção levassem o eleitor a protestar e a eleger com maioria de dez milhões de votos Bolsonaro. E o que fez pela ausência de um líder no centro. Pouco adiantou, pois Bolsonaro construiu uma improvável derrota com sua ignorância e companhias de quinta categoria. Em Portugal casos de corrupção e maus resultados na gestão levaram a uma maioria de centro e direita, frustrada pelo governo sem maioria, preconceituoso.
Sobrevive nas democracias ocidentais uma elite aristocrática que precisa e deve voltar a ter presença na política, captar o sentimento racional das sociedades que reconhecem que o progresso econômico e social passa pelo capitalismo, que a segurança para pôr políticas duras em relação à criminalidade, que a paz mundial não permite admitir invasões, atos de terrorismo e regimes fechados.
Publicado em: Jornal O Diabo.pt 01/06/24