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Ao que tudo indica, o setor de distribuição de energia elétrica vive momentos decisivos. Muitas concessões estão entrando no período de renovação e o clima anda tenso e imprevisível.
As dificuldades são muitas. A qualidade dos serviços tem caído, especialmente em algumas capitais relevantes. A rentabilidade do negócio vem caindo pela inexperiência de dirigentes sem tradição na área, o momento favorecer ou consentir perdas, fraudes e pela inadimplência pela via da judicialização das relações das empresas com órgão regulador, área de concessão e com os consumidores.
A inadimplência tem crescido e agrava as dificuldades das empresas pela cobrança do ICMS pelo faturado, e não pelo recebido, com reflexos no caixa das empresas e no cálculo da tarifa, que já foi suficiente e hoje bate no poder aquisitivo do consumidor. As empresas, através de sua entidade de classe, deveriam, no mínimo, tentar alterar esta regra pela via do Legislativo. Outro fator que estimula a fraude nas comunidades populares é a falta de segurança para que as turmas das empresas possam trabalhar limitando o consumo ao cadastro de clientes. Em vários estados, o resultado de fixar nos transformadores a carga e os nomes dos consumidores foi positivo. A fraude no asfalto, existente em condomínios de luxo, deveria ser punida por lei com a suspenção do fornecimento para o imóvel por seis meses. É preciso coragem, habilidade e diálogo.
A ausência de cultura do setor nos gestores limita muito as soluções simples e de pouco investimento. A área tem particularidades operacionais próprias e relações especiais com o consumidor e as autoridades locais. Por isso, é estranho que comandem empresas profissionais muito qualificados, mas que não residem na concessão.
Uma constatação, que deveria merecer um mínimo de atenção dos acionistas destas empresas, é o fato do grupo empresarial que menos sofre com a crise que se alastra no setor seja o único privatizado adquirido por empresas com tradição quase centenária na área, que é a Energisa, em muitos estados, e oriunda da tradicional empesa mineira Cataguazes Leopoldina. No Estado do Rio, adquiriram a pequena concessionária de Nova Friburgo, mantiveram as equipes e o resultado tem sido muito bom.
A exemplar Cemig mantém bons índices, mas tem muitos quadros gerenciais “importados”, o que causa certa resistência no bairrismo mineiro. O governador peca pela desconfiança e pela desinformação sobre o que é uma empresa como a Cemig.
A Enel vai passar por uma onda forte para abalar sua presença em São Paulo. No Rio, tem se mostrado incapaz de atender pelo menos os melhores clientes nas casas de veraneio da região serrana ou litorânea, o que tem contribuído para o desgaste de sua imagem.
E vale registrar que, no passado sombrio das estatais, as empresas elétricas apresentavam melhores resultados operacionais e financeiros.
Vale pensar enquanto é tempo.
Publicado em: Jornal Correio da Manhã 13/03/25