O livro Getúlio Vargas, meu pai, de Alzira do Amaral Peixoto, tem a segunda parte inédita, organizada pela filha Celina, perita no trato de documentação histórica, que foi diretora do Arquivo Público e alma do CPDOC da Fundação Getúlio Vargas, durante seus primeiros anos. Mas o livro é de grande importância por ser a voz da filha do presidente, no testemunho de fatos relativos à chamada “Era Vargas” ainda cercados de controvérsias.
A mais importante, sem dúvida, é a defesa do Estado Novo, a partir de 37 até a queda do presidente, em outubro de 45. Esta foi a fase mais produtiva dos anos Vargas, e de paz interna, quando o mundo vivia a radicalização da pré-guerra mundial e dos anos da guerra. A entrada do Brasil no conflito se verificou no momento certo e, como o país chegou à Europa com a guerra decidida, poupou muitas vidas de brasileiros.
Também aborda com muita naturalidade a barbaridade do movimento comunista de 35, que muitos insistem em negar, assim como a decisão jurídica da extradição da Sra. Olga Benário, condenada por crimes de morte na Alemanha. Aliás, o fato se deu em 1936 e os terríveis campos de concentração foram criados em 1942, não tendo sentido a acusação de que o Brasil a entregou aos nazistas. Ela foi entregue, sim, mas à Justiça da Alemanha, país com o qual, na ocasião, o Brasil mantinha relações normais.
Vargas perdeu, ao longo do mandato, o filho mais novo, que levava seu nome, vítima da paralisia infantil, 20 anos antes da descoberta da vacina contra a terrível doença. E, em 42, passou três meses engessado em função de um acidente de automóvel. Estes fatos são contados pela narrativa da maior intimidade do presidente, de sua influente e presente filha.
Impressiona ao leitor atual o depoimento do cotidiano simples de um presidente que teve poderes ditatoriais, da austeridade com que vivia sua família e das relações respeitosas com colaboradores, homens de alto nível moral e intelectual. O entrosamento com as classes produtoras e o sindicalismo, que implantou, afastando a ação radical dos comunistas que viviam seu período áureo. A criação da Legião Brasileira de Assistência (LBA), que prestou grandes serviços por mais de 40 anos aos menos favorecidos de todo o país. Teve, aliás, sua fundação assinada na Associação Comercial do Rio, entidade que o Vargas já havia feito, por decreto, órgão de assessoria da Presidência da República.
Enfim, este depoimento é o mais completo sobre a figura do estadista que marcou nossa história republicana, fez uma escola que, infelizmente, se perdeu ao longo dos últimos 30 anos. Mais do que um livro, uma lição e um exemplo de como servir à pátria.