Este domingo marca a segunda volta da eleição no Peru. Uma decisão importante para uma população sofrida, saqueada e mal administrada por décadas e décadas. Entre golpes militares e o assalto ao poder por políticos com objetivo claro do enriquecimento, o país tem grande desigualdade social e problemas de etnia, com a grande população indígena.
É um país rico culturalmente, berço dos Incas, com cidades monumentais como Machu Picchu e outras. Lima tem uma arquitetura espanhola de primeira qualidade, a começar pelas igrejas. O turismo tem grande importância na economia, gerador de divisas logo depois da mineração e da pesca.
Apesar das crises políticas e na sua economia, o Peru tem uma agricultura robusta, que permite um alívio na crise social. A produção é diversificada e nas mãos de pequenos produtores. Um mínimo de ordem daria estabilidade ao país. O Peru é, na América Latina, a maior presença da economia informal no seu PIB, em torno de 60%.
A importância das urnas neste domingo é justamente pela presença na acirrada disputa de um candidato da esquerda mais radical latino-americana, Pedro Castillo, que conta com o apoio de Morales, da Bolívia, Ortega, da Nicarágua, Maduro, da Venezuela e, claro, de Cuba. Desta vez, a opção não será apenas por um governo de esquerda, como no passado, mas sim por um regime forte, nos moldes de seus apoiadores.
A disputa despertou a atenção do mais ilustre dos peruanos vivos, o Prêmio Nobel Mario Vargas Llosa, que, em 1990, foi candidato a presidente da República e foi derrotado por Alberto Fujimori, um liberal –populista que acabou se revelando um grande corrupto.
Tendo se radicado em Madrid, onde vive desde então, o intelectual volta agora à cena política de seu país, fazendo um apelo pelo voto em Keiko Fujimori, filha de seu adversário, ela mesma envolvida em vários casos de corrupção, alegando que a pior opção seria o caminho de Caracas. E lembra que a direita é biodegradável e a esquerda, por usar mais da repressão e da demolição da economia e das Forças Armadas, instalada, permanece, como nos países que apoiam Castillo. Todos eles com dramas sociais superiores aos que encontraram nos seus países. E as esquerdas hoje governam unidas, dispensando os social-democratas ou socialistas moderados, como acontecia até há bem poucas décadas.
Em proclamação ao povo peruano, o Prêmio Nobel de Literatura afirmou em carta aberta que “é muito importante que o Peru não caia na catástrofe da Venezuela, Nicarágua e Cuba”.
Com a mídia internacional atenta, os países como EUA, Brasil e Colômbia, interessados em que não se instale um governo de cunho marxista no Peru, não tiveram nenhuma participação no processo eleitoral.
Apesar do forte apoio financeiro que chegou nos últimos dias para Castillo, as sondagens de opinião apontam para uma disputa acirrada neste domingo.
É oportuno lembrar que, recentemente, o Uruguai e o Equador fizeram opções pelo centro-democrático, que governa o Brasil, Colômbia, Paraguai e Chile.
Matéria postada em: Jornal O Diabo/Portugal 04/06/21