Houve tempo, e não fazem tantos anos assim, que a política atraia intelectuais de primeira linha. Assim foi em São Paulo, com o poeta Menotti del Picchia, autor de um dos mais conhecidos poemas brasileiros (Juca Mulato), que fez uma carreira de mais de meio século na área. Participou da famosa Semana da Arte Moderna, em 1922, e fundou um movimento nacionalista com dois outros grandes nomes de nossa cultura, Cassiano Ricardo e Plínio Salgado. Este último também ocupou função pública de relevo na gestão de Adhemar de Barros, como interventor em São Paulo, e foi deputado estadual e federal pelo mesmo estado, por diversas legislaturas e com prestígio no Parlamento Nacional. Foi membro da Academia Brasileira de Letras por mais de 40 anos e foi sucedido por outro grande intelectual e político, Oscar Correa, notável jurista e orador. A academia, aliás, deve ao público reedições do grande poeta, que foi atuante na Casa de Machado de Assis.
Época em que o mundo cultural e o político se confundiam. Na Constituinte de 46, tínhamos expoentes de nossas letras de todas as tendências, desde o então comunista Jorge Amado ao liberal-democrata Gilberto Freyre e ao integralista e líder católico Plínio Salgado. E houve muitos outros, como Luiz Vianna Filho, biógrafo dos melhores, os jornalistas Assis Chateaubriand e Barbosa Lima Sobrinho (da Constituinte de 34) e os juristas Aliomar Baleeiro e Paulo Brossard.
Antes, já havíamos tido no Parlamento nomes de nossa melhor cultura, como Augusto de Lima, o mineiro que presidiu a entidade e é o Presidente de Honra da academia mineira. Esta, aliás, foi presidida por outro grande político e intelectual, o senador Murilo Badaró. E tem hoje, entre seus mais antigos membros, o mais velho de nosso Congresso, o deputado Bonifácio Andrada. Na medicina, também tivemos grandes nomes no Congresso, como Miguel Couto. E, entre educadores, Flecha Ribeiro e João Herculino, entre tantos outros. Hoje, a educação é representada por Cristovam Buarque e Júlio Lopes.
Na verdade, o Parlamento, os senadores e deputados são escolhidos entre os melhores de seus estados. Por isso, deve haver a conscientização de que precisamos ter um Congresso nacional que represente as diversas classes, como as de empresários, intelectuais, lideranças de classe patronal ou trabalhadora, homens de cultura. Só assim haverá melhora na vida da população. Nada será resolvido com a eleição do amigo simpático ou do detentor do palavreado vazio e balofo dos mentirosos.