A mais recente canalhice das esquerdas, com ampla repercussão na mídia tradicional, é levantar mesquinhamente a presença de militares em cargos no governo, os chamados DAS, que são chefias de confiança de amplo recrutamento. Mais uma vez, é uma pena que o atual governo não saiba fazer comunicação com habilidade, objetividade e sensibilidade política. Afinal, alguns dos melhores assessores da área de comunicação, na Revolução, foram militares, como o Coronel Ernani D’Aguiar e os generais Octávio Costa e Toledo Camargo. E mais: antes da Revolução, o IPES foi um forte instrumento de difusão de ideais democráticos, via livros, quadros de redatores de textos, como o escritor José Rubem Fonseca, e teve como seu coordenador-geral o então Coronel Golbery do Couto e Silva. Nada de ser radical, passional, mas sim de colocar a verdade como ela é.
Bastaria que o governo tivesse a seu lado pessoas com um mínimo de cultura e formação democrática equilibrada e centrada para lembrar que, logo nos primórdios da República, tivemos até um ministro das Relações Exteriores militar, o General Dionísio Castro Cerqueira. Antes, no Império, o maior estadista, que foi ministro, primeiro-ministro, senador, conselheiro do Império e único duque feito por Pedro II foi Francisco de Lima e Silva, o Duque de Caxias. Itamar Franco teve duas pastas civis em mãos de militares: Romildo Canhim e Rubens Bayma Denys.
Na democracia que vivemos a partir da redemocratização de 1946, nossas referências políticas, eleitos pelo voto popular, eram militares, como, entre outros, os governadores, da Bahia, Juracy Magalhães, do Paraná, Ney Braga, do Rio Grande, Peracchi Barcellos, do Goiás, Mauro Borges, de Alagoas, Luís Garcia, e do Rio de Janeiro, Edmundo Macedo Soares. Além dos titulares de mandatos parlamentares, como Costa Cavalcanti, Ernesto Dornelles, Gilberto Marinho, Caiado de Castro, Napoleão Alencastro Guimarães, Amaral Peixoto, Oscar Passos (primeiro presidente do MDB), Filinto Muller, Menezes Cortes, Luís Carlos Prestes, Danilo Nunes, Amauri Kruel, Paulo Torres, Jarbas Passarinho e muitos outros. A Petrobras sempre acolheu, na sua presidência e diretorias, oficiais de reputação ilibada, desde Idálio Sardenberg, com Jango, a Adhemar de Queirós, com Castelo, e Ernesto Geisel, com Médici. Antes podia e agora não pode, em governo eleito com 57 milhões de votos?
A crítica ao General Pazuello por ser ministro da Saúde cheira a má-fé. O cargo não é de médico, mas de gestor, e ele tem experiência vitoriosa na área. E os demais estão todos enquadrados nos requisitos para os cargos que exercem. Pobre governo que é incapaz de se defender sem dar botinadas… E o povo não é mais bobo. Mas é claro que esta marcação recheada de preconceito ideológico e ressentimentos incomoda de vez que ilude muita gente ingênua.
O presidente Bolsonaro, que conseguiu deter um evidente desgaste pelos atritos com outros poderes, embora com certa razão, alterou sua agenda e mostra mais serviço na ação administrativa da excelente equipe que comanda. Poderia também ter mais zelo com a comunicação, lugar que não é para colocar amigos, mas profissionais do ramo e, obviamente, com afinidades ideológicas, pois estamos em estado de guerra com as esquerdas, visivelmente numa briga suja contra o governo. Mas é preciso reagir com competência, com razão e sem emoção, usando legitimamente os instrumentos de poder de que dispõe.
O Brasil não pode perder essa chance de finalmente encontrar seu destino de ordem e progresso. E fazer comunicação com competência faz parte da rota para o sucesso. Mas muito cuidado, para que a emenda não venha a sair pior do que o soneto.