Chega a ser chocante a ingratidão manifestada por FHC nos comentários que faz sobre Itamar Franco, em seu recente livro, que foi o seu único e decisivo eleitor para a Presidência da República. FHC estava terminando o mandato de senador, sem condições de reeleição e examinava a possibilidade de disputar uma cadeira na Câmara dos Deputados.
Itamar, com a influência de José de Castro Ferreira e a concordância de José Aparecido, bancou o candidato e tocou o Plano Real. A ingratidão começou ao assumir o governo e a paternidade exclusiva da estabilização. Aliás, sem tirar o mérito dele e de Itamar, na verdade, a globalização impôs o saneamento dos países com inflação, como foram os casos da Argentina, de Israel e tantos outros. Mas foi um plano realista e com desdobramentos positivos, como a privatização.
Depois foi ingrato com os homens públicos que atuavam em torno de Itamar Franco. Chegou a negar a sugestão do então presidente Mário Soares, de Portugal, de fazer de José Aparecido o secretário executivo da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) – criação de José Aparecido, incialmente no governo Sarney e consolidado com Itamar e Mário Soares.
FHC é um homem educado, elegante, preparado, com uma postura digna. Pena que se perca neste comportamento menor, da ingratidão e dos ressentimentos por motivos ideológicos. Não tem nem compromissos partidários. Pouco fez quando da candidatura Alkmin e cruzou os braços na eleição paulistana, primeiro procurando evitar a candidatura de João Doria, depois não acreditando na vitória e agora querendo desmerecer o sucesso nacional do prefeito. E isso, ao que tudo indica, por mera ciumeira provocada pela sua vaidade.
Tão rigoroso na crítica a quem tanto deve e tão generoso na defesa de personagens sobre os quais existem controvérsias sérias. Querendo ficar sempre bem na foto, liquidou o Banco de seu consogro, outro de seu ministro e forte financiador de sua campanha. E dizem que por sugestão de outro amigo controvertido que tinha até a alcunha de “trator”, o sr. Sérgio Motta.
O presidente Tancredo Neves disse-me certa vez que a política tinha um lado sombrio que eram as traições e os interesses pessoais. No caso, a traição é “post-mortem”, uma vez que, com Itamar vivo, só criticava à boca pequena, e o nomeou embaixador por três vezes.
Uma pena, repito, que tenhamos de alertar para defeitos de um homem que, neste momento que vivemos, poderia ser uma boa reserva.