O centenário de Roberto Campos está sendo lembrado no mundo acadêmico, político e na mídia em geral. O Instituto Atlântico e a Resistência Cultural estão lançando um livro de depoimentos sobre o brasileiro que participou de nossa vida diplomática, econômica e política por mais de meio século. E, como discípulo de Eugenio Gudin, tornou-se referência do liberalismo no Brasil.
Diplomata, Roberto participou da reunião que criou o Fundo Monetário Internacional, na delegação do Brasil, depois como Cônsul, em Los Angeles, e embaixador, nos EUA e na Inglaterra. Sugeriu a Getulio Vargas a criação do BNDE (ainda sem o S), do qual foi seu diretor e, com JK, foi presidente. Junto com Lucas Lopes, fez o Plano de Metas de JK. Com Castelo Branco, promoveu a maior reforma administrativa da República, tendo como base o Decreto-Lei 200. E foi ele também quem criou o FGTS e o BNH.
Em 1982, entrou na política, como senador por Mato Grosso, seu estado natal, e depois teve dois mandatos de deputado federal pelo Rio de Janeiro. Na eleição de 1985, no Colégio Eleitoral, votou em Paulo Maluf e mandou uma carta a Tancredo Neves, explicando sua opção, em documento importante na nossa história recente. Falava das diferenças de encarar a economia como fator de qualidade de vida do povo. Mas seu gesto político mais significativo foi o de, como ministro de Castelo Branco, ter se negado a votar a cassação de JK, o único voto em favor do ex-presidente, em mesa em que estavam presentes dois mineiros que poderiam ter feito o mesmo.
Escreveu mais de 20 livros, sendo o Lanterna na Popa um clássico com quase 200 mil exemplares vendidos pela Topbooks. Colaborou por mais de 30 anos em jornais como O Globo e o Estado de S. Paulo. Foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, numa terceira tentativa. Seu discurso de posse também se tornou documento histórico.
Esse homem polivalente, que morreu pobre aos 82 anos, era um bom autor de notáveis e bem-humoradas frases, sempre batendo nos socialistas. “Esquerdista não gosta de pobre, mas, sim, odeia o capitalista” era uma delas. Outra a de que a Petrobras não era “nossa”, como diziam os defensores do monopólio, mas dos funcionários muito bem remunerados. Conviveu em seu tempo com os grandes do mundo.
Muito combatido pelas suas posições no campo da economia, chegou a assistir em vida seu reconhecimento, inclusive, por velhos adversários, como o caso de Fernando Henrique Cardoso. Este, aliás, decretou luto oficial quando de sua morte.