A pandemia recrudesceu também no Brasil. Pela primeira vez os hospitais do Rio e de São Paulo estão lotados, tanto na rede pública como na privada. As cirurgias não urgentes estão suspensas. Os hospitais de campanha, alvo de escândalos em desvios, foram desativados. O governador do Rio de Janeiro já foi afastado por corrupção. No mesmo caminho, parece que o do Pará também.
Tudo no Brasil, hoje, envolve política. Desde os partidários do presidente, no seu núcleo mais radical e nas camadas mais humildes da população, aos opositores, em implacável campanha, que ultrapassa, em muito, as falhas do governo. É uma situação inacreditável, considerando o tamanho da crise na economia, no social e na pandemia.
A guerra pela vacina que ainda não existe continua. Bolsonaro ignora a Corovac, da China com o laboratório AstraZeneca, que tem acordo de compra e fabricação local com o governo de São Paulo. Aposta na de Oxford, embora os russos tenham acordo com o governo do Paraná e a Pfizer seja uma empresa muito presente no Brasil e já tenha apresentado seus dados para a autoridade reguladora, Anvisa, examinar. A empresa americana quer colocar no mercado sua vacina ainda este ano. Semana passada, o governo teve o décimo terceiro ministro, o da Justiça, com o COVID. Mas o presidente acha que lockdown agrava a economia e não ajuda a diminuir a velocidade da pandemia. Uma voz solitária, mas do presidente da República.
A grande bomba, no entanto, é a situação da economia. O governo vai chegar a 100% do PIB na dívida pública, com os gastos de cem mil milhões de euros na ajuda aos desassistidos, em número de 58 milhões de brasileiros. As fraudes apontadas foram pequenas, não chegando a 0,2% dos atendidos. Esta ajuda se encerra no final do mês e do ano.
Os parlamentares que não gostam do presidente, que vive criticando os poderes Legislativo e Judiciário, aceitam prorrogar esta ajuda, em montante menor, mas que daria um rombo de seis bilhões de euros no orçamento de 2021, que não tem lugar para isso. Exploram o apego do presidente a uma popularidade que não sobreviverá a uma explosão inflacionária, que certamente vai agravar o desemprego. Uma insistência do presidente pode provocar nova debandada da equipe econômica, que é altamente conceituada e tem escapado às crises políticas. Apesar do ministro Paulo Guedes, um economista de renome, ser também pouco hábil nas relações com o Parlamento, que até hoje não votou e possivelmente não votará as reformas estruturais sem as quais o Brasil não conseguirá atrair capitais. O dinheiro que entra é o especulativo.
O programa de privatizações poderia dar um pequeno alívio nas contas. Mas depende do Congresso. A pressão inflacionária poderá provocar uma alta de juros, preocupante pelo tamanho da dívida pública. Curiosamente a Bolsa de Valores tem subido. E a moeda ficou estável, em patamar alto, até com ligeira queda.
Os mercados continuam calmos, especialmente depois que as eleições municipais mostraram que as esquerdas ainda não se recuperaram depois da queda de Lula e Dilma e
dos escândalos de corrupção. Houve, sim, uma concentração na eleição de São Paulo, a maior cidade do país, mas sem resultados.
Muito nervosismo entre os donos do dinheiro. Ano passado, foram mais de 30 mil brasileiros de alta renda a buscar outros domicílios fiscais, como no Uruguai, Portugal e EUA. Este ano, o número deve ser maior. E a esquerda ainda quer taxar as grandes fortunas. Com isso a debandada vai aumentar.
Aprofundada a crise na economia, Bolsonaro terá de abandonar o sonho da reeleição. E não existe ainda um nome no centro confiável e viável.