Getting your Trinity Audio player ready...
|
Um observador atento da evolução das sociedades nos países de cultura judaico-cristã conclui que o enfraquecimento e o relaxamento de boas práticas estão gerando um novo perfil de suas elites. E para pior, em quase todos os sentidos.
O desaparecimento e as limitações das monarquias deram um primeiro impulso na perda de qualidade, na nobreza e na aristocracia. Valores da tradição e da educação perderam peso; zero de pré-condições para os casamentos, substituídos pelo dinheiro como meio de ascensão social. A mudança de mãos do dinheiro se reflete nos casamentos, no morar e até no vestir.
O comércio de roupas para homens é um reflexo. Nas últimas cinco décadas, desapareceram das grandes capitais lojas com alfaiataria de elegância com qualidade e discrição. Sulka, presente em Londres, Paris e Nova Iorque, Old England, em Paris, Pestana e Brito, Santos e Nascimento, Lourenço e Santos, Picadilly, em Lisboa, foram substituídas por grifes. Salva na capital portuguesa o Rosa e Teixeira, graças a dedicada coragem de José Castro, formado na velha escola e que mantém uma seleção de colaboradores de excelência. Na origem da mudança, o conceito do bem vestir sofreu modificações de fácil percepção. Na área feminina, ocorre a mesma mudança, talvez de maneira mais visível no uso e abuso de joias e adereços multicoloridos. Salvam bolsas e sapatos de categoria e algumas grifes que ainda seguem o grande legado de Chanel de que “less is more”.
Na restauração, embora com a perda de mesas tradicionais nas referidas capitais, houve avanços positivos nas cartas mais variadas e chocante perda de qualidade nos frequentadores. Nos hotéis cinco estrelas mais conhecidos, a troca de mãos do dinheiro fica evidente. Nem os fabulosos palácios de Paris escapam a uma frequência que beira o folclore. Surgiram os hotéis boutique, de quatro e cinco estrelas, mais sofisticados.
As maiores empresas privadas, outrora de famílias com boa formação, foram entregues pelos herdeiros a executivos exóticos, deslumbrados. Empresário com responsabilidade social, grandeza e generosidade está em extinção. No mundo português, Brasil, Portugal e nos EUA, as santas Casas passaram a existir e sobreviver pelas generosas doações de nobres e ricos burgueses e a cultura, com o mecenato das grandes e antigas fortunas.
Nas últimas décadas, o mundo não viu exemplos de mecenato como os de Henry Flick, Peggy e Salomon Guggenheim e Nelson Rockefeller, nos EUA; Calouste Gulbenkian e Ricardo Espírito Santo, em Portugal; Assis Chateaubriand e seu filho Gilberto, no Brasil. Grandes fortunas estão mais preocupadas com aviões de longo curso e financiar filmes de esquerda.
O bom gosto, os bons modos e o respeito aos códigos no comportamento social estão caindo em desuso, agravado por casamentos que já não respeitam identidade religiosa, cultural e social. Mais fácil hoje se encontrar famílias bem constituídas nas classes médias que ganharam fortunas com mérito empreendedor e que proporcionam educação acadêmica aos filhos, mas não o “savoir vivre” com sofisticação e requinte, que pede gerações.
As novas famílias abastadas, em boa parte, não têm sido felizes na sucessão de empresas familiares com reflexos na gestão.
Os homens públicos tinham melhor qualidade e origem. Outra culpa das elites que se afastaram da política, da defesa de princípios éticos e morais de um passado não muito longínquo. As novas lideranças perderam aquela parcela influente daqueles de formação e de origem em exemplos de patriotismo e responsabilidade social.
É preciso reagir enquanto ainda há tempo e segmentos que obedecem às melhores tradições na educação e no trabalho. Existem e podem agir.
Sem elites fortes o povo acaba explorado pelos aventureiros.
Publicado em: jornal O Diabo.pt 17/05/25