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(Jornal O Globo )
Roberto Campos tinha o domínio da oratória. Seus discursos e palestras eram repletos de frases de efeito, irônicas e que traduziam a realidade como poucos. O jornalista Aristóteles Drummond reuniu no livro “O homem mais lúcido do Brasil” 200 frases do economista. Leia algumas delas a seguir.
“Poucas coisas são mais incongruentes que o esquerdismo encontrado nos artistas brasileiros. São socialistas nos dedos e na voz, mas invariavelmente capitalistas nos bolsos. Não me consta que sejam chegados nos cachês da Cortina de Ferro, que são pagos em moeda inconversível. Cultivam aquilo que o líder sindical espanhol Nicólas Redondo chamava de socialismo caviar”
Livro de ensaios “Século do Esquisito, de 1990.
‘Eu diria que há três: há Galeão, Viracopos ou Cumbica, se quiser, e o liberalismo. Esta saída existe’
“Pondera-me um amigo que, como octogenário, eu deveria ser grato à Constituição de 1988 pelo art. 230, que garante às pessoas idosas o direito à vida. Lembrar-me-ei de impetrar um mandado de segurança contra o Criador se ele manifestar más intenções na próxima pneumonia”.
Pronunciamento na Câmara dos Deputados em janeiro de 1999
“Antes, queria que o governo fosse um engenheiro social, modelando o desenvolvimento. Hoje rezo para que ele seja apenas um jardineiro, adubando o solo, extraindo ervas daninhas e deixando as plantas crescerem … E um samaritano competente, para cuidar do social”.
Discurso de posse na Academia Brasileira de Letras em outubro de 1999
“A primeira coisa a fazer-se no Brasil é abandonarmos a chupeta das utopias em favor da bigorna do realismo”
Discurso de posse na Academia Brasileira de Letras em outubro de 1999
‘Nossa atual Carta Magna é intervencionista no econômico, utópica no social e híbrida no político’
“O Brasil não poderá se candidatar à modernidade enquanto mantiver esse fetiche: Petrobras, monopólio da Petrobras. A Petrobras pode existir, deve existir, [mas] o monopólio da Petrobras, por quê?”
Programa Roda Vida, em 1991
“No Brasil, há leis que pegam e leis que não pegam. A que criou o Banco Central não pegou. É que o Banco Central, criado para ser independente, tornou-se depois subserviente. De austero xerife passou a devasso emissor”
Livro “A Lanterna na popa”, lançado por Campos em setembro de 1994
“Ganhei todos os campeonatos desta pátria amada. O mais inteligente dos críticos à minha política econômica foi Carlos Lacerda. Esse esmagador polemista disse uma vez, provocando “suspense” na audiência: “Tenho a maior admiração pelo Dr. Campos… pela sua absoluta imparcialidade: mata imparcialmente os ricos, de raiva, e os pobres, de fome”. Não pude excogitar de imediato outra resposta, senão dizer que a “fúria da seta dignificava o alvo”.
Discurso de posse na Academia Brasileira de Letras em outubro de 1999