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Carlos Chagas, meu saudoso amigo e príncipe de nossos cronistas de política por mais de quatro décadas, se referia com frequência a obra inglesa O Médico e o Monstro, para comentar a contradição de governos ou políticos no trato de assuntos de alto interesse nacional. O mesmo governo ou político que acertava era o que, a seguir, errava.
Estou convencido de que Chaguinhas, se vivo fosse, estaria lembrando o livro de Robert Stevenson, em relação a Temer e seu governo, que leva a perplexidade aos observadores e atores da política nacional. Tudo por causa de uma série de acertos propostos seguidos de recuos lamentáveis, confirmando uma fraqueza que reforça a tese da falta de condições para governar. Com baixa popularidade e alta bipolaridade nas atitudes, Temer insiste no repetir lamentável renúncia da autoridade que o cargo exige.
Temer prometeu categoricamente que ministro seu indiciado seria afastado, no auge da crise de Geddel. Hoje, já não diz a mesma coisa, recorrendo a sofismas. Propõe o fim do inacreditável “salário-prisioneiro”, maior do que o mínimo e, em meio aos aplausos nacionais, recua por recear uma rebelião nos presídios. Recebe, a noite no Jaburu, um empresário de sua intimidade e, após algumas semanas, afirma se tratar de um bandido. Declara a este, em gravação conhecida, que o então deputado Loures era homem de sua integral confiança e, depois, garante nada ter com a mala de dinheiro que o mesmo foi buscar em seu nome. Antes, para por fim a baderna e depredações na Esplanada dos Ministérios, convoca as Forças Armadas e, na manhã seguinte, cede aos ressentidos. E ainda ameaça macular a oportuna reforma trabalhista por pressão de centrais sindicais. Grande ideia teve o Ministro Meireles de acabar com a Golden Share. Vai fazer?
Realmente, convivem no governo Temer a banda do médico e a do monstro, esta infelizmente maior e mais influente. Tem uma equipe econômica que mantém o país de pé, apesar da crise singular em que o mundo cresce e nós estarmos parados. No entanto, o resto do Ministério é de gente menor, despreparada, sem projeto. Há obras paradas em todo o país, inclusive as de parcerias ou concessões como, a importante BR 040.
No lugar da prioridade para a maioria parlamentar, deveria buscar o respeito da maioria de brasileiros que trabalham, investem, ousam na busca do crescimento, do emprego. Assumir a reforma fiscal e a da Previdência, sem toma lá dá cá, mesmo que fatiadas, é o que lhe garantiria a sobrevida que tanto busca. É preciso ouvir gente de qualidade e menos “bruxos” desprezados pelo Brasil mais decente. Com coragem, teria tudo para passar bem à história.