Muita gente pensa que nossa presença militar em conflitos tenha se limitado à Guerra do Paraguai, à nossa participação no final da Segunda Grande Guerra e à quase que simbólica presença na Primeira Guerra, onde a nossa Marinha de Guerra esteve presente. Mas não foi assim.
Logo que D. João VI chegou ao Rio, depois de uns tempos em Salvador, criou instituições militares, fábrica de pólvora, de espingardas, recrutamento de soldados e oficiais. E, em 1809, tratou de revidar a invasão francesa a Portugal – o que provocou a transferência do Reino de Portugal para o Brasil –, ocupando a Guiana Francesa, que ficou brasileira até 1817. Foi um erro a devolução, pois, com a incorporação daquele território, o Brasil passou a ter um porto no Caribe.
João VI, fundador do Brasil como Nação, criou o Exército regular e trouxe a Marinha de Portugal e aqui desenvolveu, considerando o tamanho de nossa costa marítima. Assim foi possível criar uma força que desestimulou movimentos separatistas e garantiu a integridade de nossas fronteiras. Cedemos na questão do Sul, mas sem permitir que a Argentina ficasse com a banda oriental, que veio a ser o Uruguai, em manobra de sucesso da diplomacia inglesa.
Foi dado início, durante o reinado de D. João VI, a construção de históricos fortes em pontos estratégicos do Brasil, na costa como na fronteira seca com as províncias então pertencentes à Espanha.
Com a vinda da Corte, em 1808, boa parte dos 20 mil portugueses que vieram tinha origem militar. Assim é que, mais tarde, quando da separação de Portugal, tivemos problemas na Bahia, onde a guarnição comandada pelo General Madeira de Melo resistiu à separação e, por dois anos, houve luta, com cerca de cinco mil mortos dos dois lados. A paz só veio em 1825.
Foi esta preocupação de D. João VI que permitiu a formação de uma oficialidade de qualidade, que nos foi de decisiva utilidade na Guerra do Paraguai, com oficiais já nascidos e formados no Brasil, como o Duque de Caxias, o General Osório-Marques do Herval e o Almirante Tamandaré, Marquês de Tamandaré.
A qualidade do ensino caiu tanto, que, hoje em dia, pouco se ensina sobre nossa história e ainda prevalece de certa maneira a imagem de um D. João VI gordo, dedicado às coxas de galinha, que realmente muito apreciava. No entanto, ele foi um estadista, teve a visão da vinda para o Brasil, deixou aqui o filho Pedro I, como Regente, e as instituições que trouxe.