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Nas avaliações sobre o Imperador Pedro II do Brasil – filho de Pedro IV e irmão de Maria II de Portugal –, surge sempre a figura humana, a personalidade singular do monarca, que foi coroado com 14 anos de idade.
Figura curiosa, estudioso, poliglota – falava fluentemente seis idiomas e conhecia mais quatro –, homem de cultura com interesse na pintura, música e na história. Curioso de conhecer e conviver com notáveis de seu tempo que procurou, como Victor Hugo, Pasteur e Leão XIII, entre outros. Dedicou especial atenção ao ensino, tendo criado a Escola Nacional de Belas Artes, o educandário de qualidade Pedro II, estando em diversas capitais brasileiras, e a Escola Militar, a presença nas reuniões do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
Viajante, fez cinco viagens à Europa e ao Oriente Médio, visitando praticamente todos os países europeus, mais o Egito e a Terra Santa, mais de uma vez. Teve ainda memorável viagem aos Estados Unidos, que percorreu de costa a costa, e na Exposição da Filadélfia, em que foi recebido pelo Presidente Grant, adquiriu o sistema telefônico ali lançado, que fez do Rio de Janeiro a segunda cidade do mundo a ter telefonia.
O lado humano mais conhecido foi uma relação de amizade e amor de quase 40 anos com a Condessa de Barral e a Viscondessa da Pedra Branca, preceptora das princesas Izabel e Leopoldina, filha de político, diplomata e proprietário rural Borges de Barros, formada em Paris, onde veio a se casar com o Conde de Barral, aparentado do príncipe Eugênio de Beauharnais, pai da Imperatriz Amélia do Brasil e Rainha de Portugal pelo casamento com Pedro IV.
Luísa Margarida, a condessa, foi mulher de fortuna, tanto pelo pai brasileiro como pelo marido francês, que a deixou com bela propriedade em Paris, no Boulevard Haussmann 8, onde recebia personalidades como Chopin, Conde Gobineau, duas no interior, uma rural e outra na costa azul, onde faleceu. Trocaram quase 300 cartas, entregues pela família nos anos 50 para o Museu Imperial de Petrópolis. Cartas dele para ela, mas algumas poucas dela para ele, pois ele respondia nas costas das recebidas, .
A troca de cartas mostra o alto nível cultural dos dois, na curiosidade, nas impressões sobre literatura, história e os roteiros das viagens. Houve quem achasse que as idas à Europa coincidiam sempre com estadias dela em Paris, para que fosse incorporada as viagens. Também se verifica que ela manifestava interesse em questões administrativas e na avaliação de personalidades do governo. Nenhuma carta contém pedido de ordem pessoal
Ao contrário do pai, Pedro II do Brasil tinha a postura da mãe austríaca no comportamento discreto, austero. Nas cartas, dirigia-se à “Condessa”, sem “minha querida” ou “meu amor”, e as declarações de estima sempre continha expressões como “sinto imenso sua falta”, “Petrópolis perde o encanto sem sua presença”, “suas cartas me alegram muito” e referências a um Chalet Miranda, onde podem ter se encontrado habitualmente, mas sobre o qual não existem registros. Também na viagem que fez só a Jerusalém faz alusão a outra viagem em que estava em sua companhia.
A condessa era nove anos mais velha do que ele, morreu em janeiro de 1891, e ele em dezembro, para o que teria contribuído a imensa tristeza pela ausência da amiga de 40 anos.
Pedro II foi casado com Teresa Cristina, irmã do Rei de Nápoles, da família Duas Sicílias, com quem teve as duas filhas e manteve uma relação de amizade e respeito. A Imperatriz morreu no Porto, antes de um mês do exílio imposto pela República. A Condessa, além de preceptora das princesas, foi Aia da Imperatriz, a quem tratava com respeito e estima.
O Imperador gostava de namorar. Mas o fez com elegância e respeito.
Publicado em: O Diabo 08/11/25
