O Brasil, reino unido a Portugal desde 1815, com seis anos como capital do Reino no Rio de Janeiro, teve, em fevereiro de 1822, as primeiras restrições das cortes lisboetas, libertas do perigo napoleônico havia muitos anos. O projeto de D. Joao VI, na verdade um estadista injustiçado, era de fazer do nosso país, e da cidade carioca, a capital do Reino, considerando a inevitabilidade da separação do Brasil, pelo seu tamanho e potencial econômico. Por isso, ao deixar o país e regressar a Lisboa, disse ao filho, Pedro I do Brasil e Pedro IV de Portugal: “Se for o caso, lance mão da coroa antes que alguém aventureiro o faça”. E o conselho foi seguido. Primeiro, com a atitude da Imperatriz Leopoldina, cunhada de Napoleão, ajudada e influenciada por José Bonifácio de Andrada, o patriarca da Independência; depois, confirmada, dias depois, em São Paulo, pelo Imperador Pedro I, com o famoso grito do Ipiranga. Viúvo, Pedro I se casou com uma neta de Napoleão e Josefina, D. Amélia.
Para muitos, as coisas terminaram ali. No entanto, isso não corresponde à verdade. A Bahia, que, desde fevereiro de 1822, vinha obedecendo a Lisboa e não ao Rio de Janeiro, não aceitou e reagiu, sob o comando do bravo General Madeira de Melo, fiel à Lisboa e comandante militar da Bahia. Resistiu quase um ano, em armas, com grandes sacrifícios de vidas humanas. Esta batalha incorporou à história do Brasil duas heroínas: a freira Joana Angélica e Maria Quitéria. A primeira colocou seu convento ao serviço dos brasileiros e, por isso, sofreu consequências. Já a segunda se passou por homem, para poder combater.
O curioso é que o governo central, na figura de Pedro I (o IV em Portugal), só obteve a vitória com a ajuda de estrangeiros, como o famoso Lorde Cochrane, contratado do governo brasileiro para montar a Marinha, depois de passagem pela libertação de países de domínio espanhol, como Chile e Peru. Este escocês de boa linhagem já havia combatido contra Napoleão e ganhou do Imperador o título de Lobo do Mar, tal sua ousada estratégia de combate. Embora tenha regressado ao Reino Unido, deixou família no Brasil, muitos dedicados a atividades diplomáticas e empresariais de sucesso até o século XX.
Se o inglês foi decisivo para a retirada por mar de Madeira, em terra, as forças leais ao governo de Pedro I (IV em Portugal) foi um francês, o General Pierre Labatut, que comandou as tropas na batalha de Pirajá, numa sitiada Salvador, que ficou sem víveres pelo bloqueio dos seus acessos. Aliás, os baianos até hoje prestam homenagens ao francês, como seu herói –em Salvador, é feriado no 2 de julho, data do rendimento dos portugueses.
Dizem alguns estudiosos que essa experiência de Pedro I o levou a procurar, em Londres, os conselhos de Talleyrand, o grande estadista francês e então embaixador de Luiz XVII, em Londres. Teria vindo daí a solução para os recursos de sua volta a Portugal para garantir o trono de sua filha D. Maria, em mãos do irmão D. Miguel. Talleyrand teria sugerido que as indenizações em libras-ouro do Brasil a Portugal fossem pagas a D. Pedro e não a D. Miguel. Com tal verba, ele teria montado sua pequena e brava esquadra com que venceu a chamada revolução liberal, colocando a filha D Maria II no trono. Há outras versões.