Muita gente gosta de dar palpites sobre tudo e todos, encampar conceitos preconceituosos ou de origem ideológica, agredir os fatos e ignorar a história. A preguiça impede a leitura, a reflexão e a ponderação.
Cada momento histórico representa um quadro que não se repete necessariamente e o que é válido numa época não o é em outra. O pensamento democrático evolui com o tempo, embora o alerta do pensador brasileiro Francisco Campos, que foi ministro da Justiça no Estado Novo de Getúlio Vargas, precisa ser lembrado: a evolução das práticas democráticas deve ser responsável para que não se transforme numa anarquia ou na ditadura de grupos organizados.
Ora, no Brasil, criou-se a imagem do Getúlio Vargas ditador, o que foi em oito de seus 20 anos de poder. Chegou ao comando do país pela Revolução de 30, como presidente provisório, depois foi eleito indiretamente, após a Constituinte de 1934, tendo sido levado ao Estado Novo como imposição da ordem e da paz, dos instrumentos de modernização do país e para manter o Brasil afastado dos radicalismos que marcaram aqueles anos no mundo. Na volta, em 1950, fez a chamada “revolução pelo voto”, prova do reconhecimento popular. Em cada página de sua passagem pelo poder, houve consonância com a realidade do momento.
Outros políticos levaram carimbos injustos, que prevalecem até hoje na crônica política, por mero revanchismo. É o caso de Filinto Müller, tenente em 30, chefe de Polícia de Vargas, tido como homem violento. No entanto, foi parlamentar respeitado por 28 anos, presidente do Senado, líder do centrista PSD e do governo JK.
Outro tenente de 30, João Alberto Lins e Barros, sofreu caluniosa campanha que colocava em cheque sua honestidade. Morreu deixando a viúva apenas os vencimentos de tenente, pois os outros cargos, inclusive, Interventor em São Paulo, não ofereciam nenhum tipo de pensão. E, em 1972, o presidente Médici editou decreto elevando a pensão da viúva, então em dificuldades.
É preciso muito cuidado no esforço pela moralidade no trato do dinheiro público. Mas alimentar lendas não contribui para acabar com a impunidade. Erros administrativos é uma coisa, enriquecimento ilícito, outra. São Paulo mesmo carimbou seus dois maiores benfeitores – Adhemar e Maluf – em termos de obras fundamentais, embora tenham nascido ricos. Ambos, aliás, tendo vivido na mesma casa a vida toda.
Justiça com isenção, sem paixão, ódios e crueldade, é o que se espera. E nunca “por ouvir dizer”.