Um dos dramas do mundo moderno tem sido a relevância das massas menos cultas nos resultados eleitorais. Até há algumas décadas, as democracias, da direita e esquerda, se apresentavam ao eleitorado com nomes de bom nível intelectual, de conhecimento do setor público e boa formação social. Com as mídias eletrônicas, os programas populares de televisão, igrejas-boutique, sob o amplo manto de “evangélicas”, mas não as tradicionais, o nível baixou e os nomes mais recomendados foram se afastando da política. Na esquerda, o sindicalismo profissional protege trabalhadores que não trabalham, que arrecadam contribuições e gastam para manter o poder político. O domínio das mídias, hoje quase todas sem dono atuante, inibe os que condenam esta transfiguração da vida pública. Os escândalos de corrupção, abuso de poder, nepotismo, já não sequer são acolhidos pelas autoridades e setores mais responsáveis dos países.
Entre os mais omissos, estão os empresários, que de maneira irresponsável ficam indiferentes à sabotagem da atividade empreendedora, com leis laborais que beiram o absurdo, gula fiscal que se torna verdadeira extorsão e geração de um ambiente de risco na atividade de empreender.
A influência positiva que tinham no passado é mesmo coisa do passado. A economia é minada por sucessivas greves, geralmente em serviços essenciais, como transportes, saúde, segurança e educação. Ficam estes senhores parados, não são descontados, são tolerados e não se divulga à sociedade o que pedem e o que têm. Antes, o setor privado pagava mais, mas não oferecia estabilidade; hoje, o setor público ganha mais, trabalha menos e mantém a estabilidade. Não são nem avaliados.
Um dos absurdos nas democracias ocidentais é o empreguismo em funções públicas dos políticos de maneira descarada. Tem sido comum na Europa, como nas Américas, que políticos de um local em que perdem a eleição, serem empregados na cidade vizinha em que venceu um companheiro. Não sabem fazer outra coisa que não viver às custas do povo que dizem querer servir. Virou coisa natural.
Os países menos desenvolvidos, entretanto, procuram se mostrar “independentes”, “modernos”, querendo estar à frente dos mais desenvolvidos, mais ricos e socialmente mais justos. Uma postura de insegurança para vencer o constrangimento de números de qualidade de vida e distribuição da renda inferiores. Os aeroportos portugueses, em nome “da dignidade do trabalhador português”, como é referido habitualmente, não possui, como em todo mundo, carregadores de malas, autônomos, que atendem a senhoras, idosos, pessoas com restrições de carregar peso ou simplesmente não gostam de carregar malas. No aeroporto de Madrid, por exemplo, no portão de aceso a check-in vip da Iberia, um carregador ganha, livre de impostos até três mil euros, sendo que no verão este número pode chegar de quatro a cinco. Não onera o aeroporto, nem o governo. Procura seus serviços quem quer e paga o que quiser ou foi acertado. Nem por isso a dignidade do trabalhador espanhol é atingida, inclusive por não ser obrigado a obter a licença e por ganhar bem mais do que a média de outros trabalhadores. Idosos e mulheres é que carreguem suas malas em Lisboa.
Lula da Silva, que adora explorar o complexo de vira-lata do povo, chegou ao absurdo de querer exigir emprego fixo e normas de salários e horário aos trabalhadores de aplicativos tipo Uber. Um ridículo total, e nunca mais tocou no assunto.
A cultura do paternalismo é o atraso. E nas democracias, hoje, o paternalismo está na nomeação de parentes e amigos dos mandatários no setor público. A carga fiscal alta serve para isso.
Os países ocidentais pedem um choque de capitalismo e bom senso.
Publicado em: Jornal Diabo.pt 31/08/24