A presença do turismo na economia brasileira é pouco mais da metade da média da União Europeia, pouco mais de um terço da relevância em Portugal, Espanha, Grécia, Itália e Turquia. Nestes quatro países, o setor representa mais de 10% do PIB. Os EUA reorganizaram e desburocratizaram a emissão de vistos, mesmo dentro de quadro delicado na imigração, ao primeiro sinal de perda de turistas.
No Brasil carente de empregos, o turismo patina pela total ausência de uma política que proporcione produtividade e qualidade à ampla cadeia econômica que envolve hotelaria, transporte aéreo, restauração e cultura. O governo entraria com a caneta, e o setor privado com o resto, como acontece hoje.
As maiores redes hoteleiras são estrangeiras e as brasileiras geralmente regionais. Perdemos nas últimas décadas grupos relevantes como Nacional (Horsa), Othon e Varig. A maioria das bandeiras estrangeiras opera e não investe nos imóveis destinados à hotelaria. É o turismo interno que sustenta o setor.
A aviação internacional deveria se beneficiar da agressiva política de incentivos, a começar pelo combustível, que é sua maior despesa, considerando a distância que nos separa dos países emissores que estão no hemisfério norte.
Os números são acanhados e apontam para a modesta presença de estrangeiros, considerando que mais de um terço é proveniente da Argentina e de alguns países latino-americanos. E dos argentinos, a metade vai aos estados do Sul.
Uma análise dos setores envolvidos também comprova a insignificância da nossa participação nos mercados. Presença relevante de empresas estrangeiras, como a TAP, com dez voos diários nos ligando à Europa, e as excelentes redes hoteleiras portuguesas – Vila Galé, PortoBay, Pestana – têm forte atuação no turismo interno ou exportador. O setor não possui nenhuma política de promoção no exterior em consórcio com aéreas, hotelaria e agências de viagens. Aliás, as agências estrangeiras sumiram do Brasil.
Imaginar que de evento relevante no mercado só temos o Rock in Rio chega a ser desanimador. Agora, o Rio vai ter uma casa de espetáculos e gastronomia voltada para o mercado internacional, o Roxy, mas que precisará de fluxo contínuo de estrangeiros para ocupar suas instalações e remunerar o belo investimento.
A legislação não ajuda também. O Congresso protela há décadas a regulamentação dos cassinos e bingos, que pode animar e certamente gerar mais de cem mil empregos no país. E agora querem reavaliar a abertura do comércio aos domingos e feriados, o que não atende aos turistas e muito menos os comerciantes e comerciários.
Os estados e municípios lidam com o turismo no mesmo modelo desde os anos 50. No fundo, esta criminosa indiferença com a atividade de importância econômica e social vem da aversão ao setor privado reinante no nosso país desde sempre. Turismo é atividade econômica capitalista. Não deve ser testada por socialistas.
Publicado em: jornal Correio da Manhã 10/09/24