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Existe um verdadeiro complô no ocidente contra o pensamento – e lembrança – popular em relação à monarquia. Uns, não apenas as esquerdas, muito atuantes como se sabe, mas setores ingênuos das classes médias não param para avaliar o passado. Todos os países que viveram a monarquia sabem que as repúblicas não acrescentaram nada aos povos, quando não prejudicaram na questão política, social e econômica. Mas promovem uma cortina de silêncio, que curiosamente não atinge a boa parte das sociedades.
No Brasil, raras unanimidades são as avaliações de todos, incluindo gente humilde e de pouco conhecimento de história, de que a maior das brasileiras foi a Princesa Isabel, que libertou os escravos e já tem até processo de beatificação no Vaticano. Também parece ser majoritário o conceito de que Pedro II foi o maior dos brasileiros. Também não como se ocultar que o Brasil tinha relevância maior no século XIX entre as nações.
Portugal é a mesma coisa. O culto ao passado e a nomenclatura dos logradouros públicos privilegiam nobres e intelectuais, quase todos monarquistas. Há marca nas cidades das digitais de reis e rainhas. E os exemplos de exercício da caridade e da solidariedade.
No Brasil, em 1993, no plebiscito de revisão constitucional, a monarquia obteve 13% dos votos, superior aqueles dado ao PT que veio a ficar no poder por 15 anos. E sem propaganda.
Portugal se surpreendeu recentemente com a repercussão e acolhida, nas mídias locais e europeias, do casamento da Infanta Francisca, com alto grau de audiência na televisão, que transmitiu a cerimônia em Mafra ao vivo, além da presença popular.
Nada mais natural que incomode aos políticos republicanos o prestígio junto à população da Família Real, chefiada pelo casal Duque de Bragança, d. Isabel e D. Duarte, de exemplar dedicação ao país e às boas causas.
Um autêntico exercício da democracia, que os políticos, em nome da qual tanto falam e pregam, seria a colocação em pleito popular próximo nos dois países – e até em outros – da consulta sobre o regime republicano ou a monarquia parlamentarista. O mundo digital passou a dar aceso à informação a quase toda sociedade nos dois países. E as famílias reais, em Portugal e Imperial, no Brasil, ambas da Casa de Bragança, gozam de tal prestígio que o resultado poderia surpreender.
A República, nos dois lados do Atlântico, trouxe para a vida pública ingredientes desconhecidos nos tempos monárquicos como a corrupção, a demagogia, o populismo. Eram sábios, nascidos e criados para governarem e promoverem a felicidade dos povos.
O socialista Mário Soares tinha consciência da importância monárquica na sociedade portuguesa. Um encontro inesperado em voo de Recife para Lisboa, em conversa com este repórter da história, contou-me que havia mandado representar Portugal nos funerais do Rei do Marrocos, o Duque de Bragança, o então jovem D. Duarte. Confidenciou-me que o povo português tinha boa memória da monarquia.
Frear as ondas radicais que campeiam pelo mundo, as tentativas de divisão de povos e culturas só pode favorecer as maiorias silenciadas da burguesia, que forma opinião e prima pelo bom senso, de que nossos dois países estariam melhor atendidos com o poder moderador de monarcas do que de políticos que visam agradar as atuais e não as futuras gerações. A construção de uma Nação por vezes pede sacrifícios.
A relevância da nobreza portuguesa no Brasil sobreviveu à República instalada em Lisboa até muito recentemente, em que na sociedade do Rio de Janeiro eram personalidades prestigiadas e homenageadas, nobres portugueses, como Barão de Saavedra, Conde Pombeiro, Marquês de Belas, Visconde de Salreu, Visconde Castelo Novo, marcaram época nos anos 50 e 60.
O casamento de D. Francisca com D. Duarte, em 1942, reuniu o que havia de melhor nos dois países. Hoje, o príncipe do Grão-Pará, segundo da linha sucessória do Brasil, D. Antônio, é casado com a princesa belga Christine de Ligne, o que confirma a qualidade da presença dos Braganças na melhor nobreza europeia.
Publicado em: jornal O Diabo.pt 29/06/24