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O livro “Arquivo Nobiliárquico Brasileiro”, obra do Barão de Vasconcellos e Barão Smith Vasconcelos, publicado em Lausanne, Suíça, em 1918, tem tido valores crescentes quando surgem em leilões no Brasil. O trabalho reúne informações sobre os mais de mil títulos concedidos desde o Reino Unido, por D. Joao VI, de 1810 até 1821, e depois pela monarquia brasileira. Muitos dos títulos dados por D. João VI foram referendados ou promovidos por Pedro I do Brasil.
A primeira e importante diferença em relação aos títulos portugueses é que no Brasil eles eram todos pessoais aos distinguidos, sem sucessão. Mesmo os títulos seguintes, com mesmo nome, nem sempre eram de filhos, mantendo o nome pela localização geográfica a que se referiam. A questão da não hereditariedade é apontada como um dos motivos da falta de interesse na manutenção da chama monárquica como ocorre em Portugal.
Entre as curiosidades, são os títulos dados a viúvas de titulados de relevantes serviços ao Império, a maioria dos 29 títulos de mulheres. Apenas um foi dado a não natural de Portugal ou do Brasil, o de Marquês do Maranhão ao oficial escocês Lord Cochrane, que comandou a frota na questão da resistência na Bahia à proclamação da separação do Brasil de Portugal e também no Maranhão. No segundo reinado, apenas um título de Duque fora da Família Imperial, o de Duque de Caxias, chefe militar, político e patrono do Exército do Brasil. E fora da família legitima, a filha do Imperador com a Marquesa de Santos, que recebeu o título de Duquesa de Goiás.
Os títulos eram atribuídos geralmente a militares, filantropos, doadores à Coroa, alguns intelectuais, grandes proprietários rurais que representavam o governo em seus territórios, muitos diplomatas e servidores púbicos que se destacaram em suas funções. E as designações geralmente a locais de nascimento ou atividade do agraciado, raramente com nomes de família.
O Conde de Bonfim, depois marquês, era comerciante no Rio e doou 50 mil libras esterlinas para duas viagens à Europa do Imperador Pedro II e o filho Barão de Mesquita fez idêntica doação para a viagem aos EUA, em 1871.
Os primeiros governos republicanos tinham em seus quadros titulados do Império – muitos sem abrir mão do uso do título, como o Barão do Rio Branco, ministro dos Negócios Estrangeiros de três governos – e conselheiros, às dezenas. O presidente Afonso Pena foi ministro três vezes na monarquia. O Barão de Ladário, almirante e único oficial general a resistir ao golpe republicano, foi eleito senador pelo Amazonas. Esta presença forte de egressos da monarquia nos primeiros governos civis republicanos mostra que o golpe foi uma ousada operação de uns poucos militares, que rapidamente trataram de embarcar a Família Imperial para o exílio.
A República teve momentos lamentáveis na história. Em relação a Portugal, além de obrigar portugueses a optarem pela cidadania brasileira, chegou a romper relações quando navio português deu asilo a procurados pelo governo do Marechal Floriano. A mesquinharia se fez presente nos anos em que substituiu o nome do Colégio Pedro II para Colégio Nacional, o que mais adiante foi anulado. A instituição foi e permanece como escola pública de alta qualidade no país. E o confisco do Palácio Guanabara, atual sede do governo do Rio de Janeiro, que era propriedade pessoal do Conde d’Eu, marido da Princesa Izabel, que não foi devolvido por preciosidades jurídicas.
Enfim, com erros e acertos, os anos da dinastia Bragança no comando do Brasil deixou boas recordações e tem sido sempre bem avaliada.
Publicado em: Jornal Diabo pt 04/10/25