A Operação Lava-jato, que levou Lula da Silva à prisão, dirigentes de estatais e empresários presos e mais de um mil milhões de euros devolvidos, está tendo tudo anulado por decisão do mesmo Supremo Tribunal que referendou as condenações. Tudo dentro da operação que chegou a tentar retirar o mandato de senador do juiz Sergio Moro, autor da façanha até então inédita no Brasil, que foi levar às grades gente importante.
Mas o mesmo tipo de crime começa a ser praticado e os comentários, inclusive na imprensa, podem levar a abertura de uma nova série de investigações envolvendo dinheiro público.
A compra de títulos de um banco digital com prazos de quatro a dez anos é o mais comentado neste momento. A tentativa de colocar os papéis na Caixa Econômica naufragou diante da opinião contrária da área técnica, cujos responsáveis foram afastados das funções. Como o assunto veio a público, a operação foi abortada. Passadas algumas semanas apenas, o mesmo banco aparece em outra operação de grande vulto em fundo estatal e por dez anos, prazo incomum em certificados bancários, no Brasil e no mercado internacional. Consta que seus papeis são relevantes em entidades de influência política. O Banco Central não comenta.
Os negócios suspeitos não estão apenas na administração central, mas também em alguns estados, como Rio de Janeiro e Bahia. Além do mercado financeiro, onde os fundos de previdência das estatais são detentores das maiores carteiras, honorários de advogados são alvo de fortes indícios de corrupção. Os grandes escritórios do Rio e de São Paulo não estão entre os beneficiados com grandes causas e honorários. São bancas modestas, sem tradição, o que torna as suspeitas de irregularidades prováveis. Logo, os indícios não são as emendas.
O órgão oficial de estatísticas, IBGE, quando da nomeação de seu presidente, foi alvo de críticas. O indicado era um economista de esquerda marxista Márcio Pochmann, o que poderia facilitar índices oficiais maquiados. Contando com corpo técnico de muita qualidade, a direção do órgão resolveu criar uma empresa subsidiária para cuidar justamente de dados sensíveis. Os funcionários protestam, e o governo silencia. Não houve nenhum dado contestado até agora, entretanto.
Por outro lado, crescem as dificuldades para empresas privadas que lidam com setores que o governo atual gostaria de ver nas mãos do estado, como óleo e gás. A última é obrigar o aproveitamento do gás natural em percentuais maiores, para aumentar a oferta. Mas o setor privado resiste em função dos investimentos e dos preços pouco atrativos neste momento.
Neste último trimestre do ano parece certo de que o déficit será superior ao programado, a inflação acima da meta e o crescimento da dívida pública. O governo procura compensar com o bom nível do emprego e o crescimento da economia acima do esperado. O crescimento teria como base o consumo dos beneficiários pelos programas sociais, pois o dinheiro entra e sai logo no consumo.
Os rumos da economia passaram a ter importância política relevante nos países de eleições livres. O cidadão-eleitor já não tem prioridade ideológica, mas pede prestação de bons serviços públicos na saúde, educação e segurança pública, que dependem de uma situação econômico-financeira confortável.
Publicado em: jornal O Dia 04/11/24