Ainda sobrevive uma linha de pensamento e ação política que, sem recuar de convicções consolidadas, pratica o bom senso e a isenção diante dos fatos e seus personagens.
No Estado, por exemplo, na área da cultura, tivemos esta semana uma boa notícia e outra lamentável. A boa foi a entrega da coordenação dos museus ao competente Douglas Fasolato, que fez do Museu Mariano Procópio, em Juiz de Fora, enquanto seu dirigente, exemplo para todo o país. Certamente vai ajudar a reabrir museus no Rio e em Niterói, estimulando a pesquisa histórica. A outra , prova de desinformação total ,foi o afastamento do Museu da Imagem e do Som do eficiente e dedicado Luis Antonio Almeida, com uma vida inteira de serviços restados à instituição, em um cargo de confiança. Para quem lida com a cultura, e todos conhecem Luis Antonio, não dá para digerir o ato injusto e inútil.
Na área desta novela da Lava-Jato e outras operações, que pecam pela morosidade, e esta decisão chocante do STF quanto à prisão na segunda instância, o clima anda exaltado, odiento, radical. Uns querem prender todo mundo indefinidamente e outros desejam a impunidade garantida por recursos que, no Brasil, amparam os que pagam bons advogados.
Bom senso demonstrou o correto militante de esquerda, filiado ao PSOL, Cid Benjamin, ao comentar nas redes sociais sua estranheza com a longa prisão preventiva, sem ser ouvido em juízo, do ex-governador Pezão, homem simples, de vida modesta e de bons serviços prestados. Este eu conheço bem, pois foi criado na Light, em Piraí, filho de exemplar funcionário. Pode até ter errado, mas nunca na dimensão de merecer esta prisão preventiva, pois não oferece nenhum tipo de perigo ao responder em liberdade ou, no máximo, em prisão domiciliar. Por outro lado, o comportamento protelatório dos presidentes do Senado e da Câmara, em relação à prisão em segunda instância, é condenável. Seria a oportunidade de se regulamentar de maneira mais ampla, como, por exemplo, garantir a prisão para os que tenham duas ou mais condenações na primeira instância. E dar prazos ao Judiciário para julgamentos para evitar a indústria dos recursos.
Na área do comportamento ligado à liturgia dos cargos de maior relevância, também vivemos um momento curioso. O Governo Federal reuniu uma equipe da melhor qualidade, em sua maioria, numa corajosa e correta política econômica, com um gênio como Paulo Guedes e seus colaboradores preparados e sólidos nas convicções e o presidente, homem simples e correto, com boa orientação, se deixa levar pela postura natural de dizer o que lhe dá na cabeça, esquecendo que o cargo que ocupa impõe limitações no comportamento. No Estado do Rio, a mesma coisa, o governador Wilson Witzel, com os parcos recursos de que dispõe, tem dado mais tranquilidade à população na segurança pública, mas se deixa levar pela empolgação, agredindo também as limitações comportamentais do cargo que ocupa. Uma certa moderação o ajudaria, certamente, a ampliar seus acertos, pois tem boa cabeça. Poderia ainda se integrar mais com as forças vivas do Estado.
Enfim, neste mundo tão passional, poderíamos todos ser mais tolerantes, mais justos e unidos em torno do bem comum.
Termino lembrando uma lição que recebi de Leonel Brizola, quando ele foi almoçar em minha casa, em 2002, em que me referi ao respeito por ele, apesar de termos estado em campos opostos toda a vida. Ele me corrigiu na resposta, dizendo que, na verdade, corremos foi em linhas paralelas, visando o mesmo ideal, que é o bem do Brasil. É isso aí, nunca pensei que iria aprender alguma coisa com o Briza…