A Princesa Isabel foi efetivamente uma personalidade marcante na vida brasileira. Herdeira natural não apenas do trono, mas também da simpatia e do carinho popular. Uma pena que o até hoje mal explicado golpe republicano nos tenha privado de quase 30 anos, tempo que teria seu reinado. A luta pela abolição, que marcou sua presença na história, mostra em detalhes sua bondade e disposição de enfrentar preconceitos. E o filho Luiz, herdeiro do trono, tinha o perfil tão respeitado e de virtudes que era chamado de “Príncipe Perfeito”, pai de D. Pedro Henrique, na mesma linha de religiosidade e amor à família, com total disponibilidade a servir ao Brasil.
Quando foi a Baependi buscar a fertilidade para procriar, nas fontes de Caxambú, em 1868, quatro anos depois de casada, Princesa Isabel marcou os dias que por lá passou com gestos de grandeza e sabedoria. No baile da cidade, na sede da Prefeitura, estavam todas as personalidades da região e muitos nobres, como o próprio Conde de Baependi, incluindo discretamente no salão o Comendador Mattos, o homem mais rico da cidade, que era mulato.
Sabedor de que o Comendador ficava discretamente instalado nas festas, sem dançar, para não constranger senhoras da alta sociedade que estranhavam o homem mais rico da cidade ser um mulato, quando da abertura da dança, o Conde d’Eu, marido do Princesa, levou-a até o Comendador e a ofereceu para a primeira dança, uma valsa. Foi uma surpresa e os dois dançaram por bons dez minutos, aos fins dos quais o Comendador passou a Princesa a seu marido. Depois da saída do casal Imperial, as atenções se voltaram todas para o Comendador. Uma senhora mais afoita chegou a pedir para dançar com ele. Educadamente, Mattos disse que quem havia dançado com a herdeira do trono brasileiro não poderia dançar com outra mulher.
Atribuindo o sucesso do tratamento às águas e à fé com que pediu a intercessão da Santa Rainha Isabel da Hungria, a Princesa abriu subscrição para a construção da Igreja, em Caxambu.
Ao ser alertada pelo Barão de Cotegibe, líder no Parlamento, que a Lei Aurea poderia lhe custar o trono, respondeu de pronto que, se fosse verdade, não se importaria, pois a abolição era mais importante do que tudo.
Durante os 30 anos de exílio na França, até morrer, nunca deixou de receber os brasileiros, desde jovens estudantes, como o futuro filósofo , educador e jurista Francisco Campos e seus colegas do Caraçá, a republicanos como José do Patrocínio.
Por essas e outras é que já corre no Vaticano um processo para beatificar a Princesa Isabel.