No livro de histórias de sua vida, que lançou pouco antes de morrer, Luiz Carlos Mieli lembra as famosas “peladas” que reuniam artistas que adoravam o esporte. Recorda até que Chico Buarque chegou a formar um time.
Fagner, Jair Rodrigues, Jorge Benjor, Paulinho da Viola e Edson Celulari, entre outros, participavam das partidas, muitas no famoso Clube dos Trinta, em São Conrado, no Rio. Mieli, que adorava jogar, era asmático e corria com a bombinha de asma na mão. Tive oportunidade de acompanhá-lo certa vez, em Itaipava, no campo que o jornalista, escritor e político Artur da Távola tinha em seu sítio. Outro famoso jornalista do grupo foi Armando Nogueira.
O futebol sempre esteve ligado à música popular brasileira. Ary Barroso e Lamartine Babo foram autores dos hinos de quase todos os clubes do Rio. Vale ouvir alguns que estão na Internet.
O empresário José Luiz Ferraz, botafoguense que não perdia um jogo do time, também reunia artistas no campo de sua casa, no Rio. E ainda levava os botafoguenses no seu micro-ônibus para os jogos.
Há também muitas surpresas no envolvimento do futebol com a política. João Havelange, bicampeão do mundo em 1962, meses depois, foi candidato a deputado estadual pelo então Estado da Guanabara – mas não se elegeu. Já em São Paulo dois governadores vieram do futebol: Laudo Natel e José Maria Marin.
A força de nosso futebol criou fenômenos mundiais de personalidade, como o caso de Pelé, certamente um dos três ou quatro brasileiros mais conhecidos no século XX. O sucesso, entretanto, subiu à cabeça de jogadores e dirigentes e nosso futebol recuou meio século em 12 anos. Foi preciso a goleada dos 6 a 0, para marcar um recomeço, que deve ter como ponto de partida um regime com regras, limites e disciplina, para que possamos voltar a disputar em boas condições. O velho Machado de Assis já dizia não haver mais vinho que embriagasse do que o sucesso e o dinheiro. E nossos jogadores precisam de um pouco de humildade para segurar o sucesso e o dinheiro.
Na política, também tiveram presença jogadores e dirigentes de clubes, como o hoje senador Romário. O Rio elegeu Veiga Brito e Marcio Braga, presidentes do Flamengo, Francisco Horta, do Fluminense, Eurico Miranda e Roberto Dinamite, do Vasco, entre outros. Em Minas, o deputado Aécio Cunha, pai do senador Aécio Neves, era bem votado em Belo Horizonte por ser um cruzeirense muito presente.
O futebol está no sangue dos brasileiros. E no coração.