O Brasil é o país das lendas. Uma delas, com certeza, foi um dos nossos primeiros estadistas: Adhemar de Barros. Quatrocentão paulista, formou-se em Medicina no Rio, pós-graduado e com residência médica na Alemanha e França. Foi um homem de visão global, que nasceu com o século, no mesmo dia do Brasil. Teria 117 anos.
Inventaram para ele a legenda do “rouba, mas faz”, frase que ele nunca pronunciou. Era uma época em que não se roubava, mas também não se ousava fazer. Mas ele fez muito.
Adhemar era deputado estadual em São Paulo, com trinta e poucos anos, quando o presidente Getulio Vargas o chamou a São Lourenço, onde estava no Hotel Brasil, e o convidou para ser interventor no São Paulo. O homem era o dinamismo em pessoa e começou logo a projetar e executar as mais fundamentais obras do estado e, talvez, do Brasil daqueles anos. Aliás, importantes até hoje, como as vias Anchieta e Anhanguera, o Hospital das Clínicas, os centros de pesquisa médica Emilio Ribas e Adolfo Lutz, o maior prédio do Brasil, sede do Banespa, da Vasp e dezenas de aeroportos no interior paulista e de Congonhas, além do estádio do Pacaembu, entre outras de impacto.
Na redemocratização, foi eleito governador e, depois, em 1962, mais uma vez eleito. No intervalo, foi prefeito de São Paulo e perdeu duas eleições para presidente da República, mas com grande votação e sem estrutura partidária. Era somente o líder e sua obra. No último mandato, construiu a Castelo Branco.
Em São Paulo, herdou inimigos de Getulio e, apesar de ter sido a mais importante barreira ao crescimento do comunismo no estado industrial, foi rejeitado por boa parte da elite. Só não foi presidente em 1955, com apoio de Getulio, pois a bala do 24 de agosto atingiu sua candidatura. Mais homem de ação do que de articulação, foi muito traído, mas nunca deixou de ser querido pelo povo.
Como empresário, foi ruralista, industrial, da Lacta de chocolates, fundou a Rádio Bandeirantes, origem do grupo BAND, desenvolvido depois por seu genro João Saad, e fundou, no Rio, onde tinha grande prestígio popular, o nosso jornal O DIA.
E a turma da inveja, que não perdoa quem faz acontecer, criou a tal “caixinha do Adhemar”, que hoje seria coisa de vereador. No mais, foi o único político que se casou e foi velado na mesma casa. É isso aí!
Autor: Aristóteles Drummond
Publicado pelo Jornal – O Dia