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O ex-presidente Jair Bolsonaro é fruto do empobrecimento da qualidade dos homens públicos, em geral, nas democracias atuais. E dessa nova direita, que diferentemente da clássica, tem forte componente populista e programa pouco nítido, embora atenda a reclamos do mundo moderno.
Bolsonaro é um militar que não passou de capitão, indo muito jovem para a política defendendo interesses de militares, em especial viúvas e filhas assistidas com pensões, o que lhe garantiu votos para se eleger. Com o tempo, acrescentou um componente ideológico de direita. Embora com boas votações entre os deputados eleitos pelo Rio de Janeiro, nunca foi relevante como parlamentar, sendo um tipo meio para o folclórico.
Em 2018, partiu para uma aventura de improvável êxito e acabou eleito na onda dos escândalos do PT e da ausência de um nome nitidamente de direita. Teve dez milhões de votos a mais do que o candidato das esquerdas, Fernando Haddad, hoje ministro de Lula e depois do bom governo perdeu por menos de dois milhões.
Surpreendeu fazendo um bom governo, que, apesar da pandemia, melhorou muito a economia, vendeu algumas estatais, acabou com prejuízos e corrupção, cancelou milhares de cargos na administração pública. Preparou o Brasil para um grande salto em eventual segundo mandato.
Para decepção do que restou da elite conservadora no Brasil, construiu ao longo do mandato a improvável derrota que devolveria o Brasil ao que havia de pior nas esquerdas, o mesmo PT dos escândalos. Inseguro e despreparado, falhou no trato da política. Foi feliz na economia e nas obras públicas, através de duas revelações que foram os ministros Paulo Guedes, notável economista da escola de Roberto Campos, e Tarcísio de Freitas, atual governador de São Paulo e nome forte para a corrida presidencial do ano que vem. E, por último, mas não menos importante, o sucesso mundial no agronegócio entregue à ministra Tereza Cristina, agora senadora.
O comportamento pessoal inibiu que membros do governo, especialmente os militares, o aconselhassem a uma postura mais discreta na pandemia, quando brigava com o pensamento da população minimizando o drama mundial, desconsiderando o valor das vacinas, nunca tendo ido a um hospital, nem tomado a vacina e feito isso com publicidade. Atritos desnecessários com as mídias e o Judiciário favoreceram o desgaste na população de um governo que estava dando certo. Brigou com dois ministros populares que demitiu, e até com seu vice, este um militar com liderança e prestígio, hoje senador.
A falta de preparo somou-se deslumbramento com o poder, uma boa dose de arrogância e uma família caricata, de filhos, no mínimo, exóticos, cinco de três relacionamentos diferentes. No mais, o círculo íntimo de baixa qualidade o ajudou a se distanciar da postura esperada para um presidente.
Os analistas isentos, que são pouquíssimos, estimam que, mesmo sendo Bolsonaro a maior liderança popular no país, e absoluto no segmento da direita, sua rejeição pode favorecer as esquerdas, inclusive Lula numa candidatura à reeleição. Aliás, na eleição de 2022, 38 milhões deixaram de votar pela abstenção ou voto em branco ou nulo. Parece
claro que, nestes 38 milhões, Lula teria poucos votos. Foi a classe média tradicional que não quis votar em Bolsonaro pelo seu comportamento.
Bolsonaro, ao que parece, não aprendeu nada com a derrota, o isolamento e os problemas com a Justiça. Continua a gerar polêmicas e a agredir a membros do centro e da direita que ousam discordar dele. Assim, faz a alegria de Lula e das esquerdas, que sofrem o desgaste do governo inepto. Inelegível prefere apoiar a mulher ou filho a somar com outras lideranças.
O universo de adeptos incondicionais do controvertido político não quer entender que insistir em ter como líder da oposição alguém com tão alta rejeição é perpetuar as esquerdas no poder. Ao invés de discutir anistia para Bolsonaro, o foco deveria ser o governo de Lula e a união com líder que some.
A direita tem muito a aprender para resgatar o mundo dominado por uma minoria mediática de esquerda. O povo está na direção certa. Os líderes nem tanto.
Publicado em: jornal O Diabo.pt 24/05