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Grave erro comete as sociedades que relegam ao esquecimento seus grandes filhos através dos tempos. Muitas vezes existe a preferência pelos que erraram, quando o certo é manter viva a lembrança dos benfeitores, dos bons exemplos.
O exemplo daquele que pode ser considerado no Nordeste, Pernambuco em especial, o estadista da República, no século XX que foi Marco Maciel, deve ser lembrado. Seu legado tem imensa dimensão, pois atende a muitos segmentos relevantes na vida pública, como intelectual e pessoal, marcada pela integridade e a fé.
Nasceu e foi formado em lar que respirava política. O pai, José Maciel, foi deputado federal em dois mandatos, prefeito do Recife, secretário de estado, deu o exemplo da vida pública como verdadeiro sacerdócio. Assim é que ainda estudante revelou-se líder ao dirigir o Diretório na faculdade e presidir a União Estadual, quando a representação era monopólio das esquerdas. Foi aí que foi construída uma vida pública compromissada com a liberdade e a justiça social, tendo como base uma formação religiosa católica, identificada com a doutrina social da Igreja.
Uma carreira marcada pela virtude, sempre cercado de respeito e admiração, ininterrupta desde a eleição para deputado estadual aos 30 anos, passando à Câmara dos Deputados, que presidiu ainda jovem, ao governo do estado, senador e ministro de estado em diferentes pastas. Na vice-presidência da República por oito anos, mostrou categoria, elegância e correção no exercício da alta função.
Um clássico democrata, sem radicalismos ou preconceitos de qualquer espécie. Como intelectual, bom pensador, definia a atividade afirmando que “sem liberdade não há democracia nem igualdade. Sem democracia não há igualdade nem liberdade. Mas sem ordem e segurança não pode haver nem democracia, nem igualdade, nem liberdade”. Uma carreira longeva e sem ceder para atender a interesses eleitorais ou eleitoreiros. Fez vida pública sem agredir, acusar ou denegrir adversários.
Embora em seu tempo o Nordeste tenha dado à vida pública brasileira homens que efetivamente souberam colaborar para o bem da sociedade e da sofrida região, cabendo lembrar, entre outros, Nilo Coelho, Dinarte Mariz, Costa Cavalcanti, Cesar Cals, pelo conjunto da obra, Marco Maciel pode ser considerado o estadista de seu tempo, pelo que realizou nas funções executivas, pelo desempenho legislativo correto, pelas ideias que defendeu e a contribuição à cultura e à educação, que o levou à Academia Brasileira de Letras. Tudo, aliás, na sua biografia de Ângelo Castelo Branco, cujo resumo deveria ser distribuído nas escolas de nível médio.
Pernambuco deu ao Brasil relevantes servidores públicos fora da política partidária a seu tempo, como Apolonio Sales, Rubens Vaz, Costa, construtores da CHESF.
Um olhar sobre aqueles anos que marcaram suas quatro décadas a serviço do Brasil, com idealismo, dedicação e ética, permite que desta crise que vivemos uma renovação venha a trazer estes tipos de valores, sem os quais não teremos nunca o país que sonhamos legar a filhos e netos. Certamente o instinto do povo, historicamente comprovado em momentos graves, pode nos conduzir a dias melhores. Ganha relevo lembrar exemplos como os deste grande e imortal brasileiro que Pernambuco deu ao Brasil.
Publicado em: JORNAL DIÁRIO DE PERNAMBUCO 03/09/25