Os dois movimentos vividos pelo Brasil e Portugal na segunda metade do século passado terão intenso debate na data redonda de 60 e 50 anos. No Brasil, foi uma reação da sociedade à iminência de um golpe de inspiração comunista, sob forte influência de Cuba. Em Portugal, a pretexto de abrir o regime, tentava-se criar na Península Ibérica um satélite da União Soviética.
O movimento português iludiu uma elite liberal democrática que considerava terminada a missão do Estado Novo e a própria ausência de Salazar não justificava a manutenção do regime. Mais organizados os comunistas quase dominam o país.
Para os que teimam em dissociar o movimento de influência de Moscou, basta se recordar a rapidez com que Álvaro Cunhal desembarcou em Lisboa e tratou de fazer valer sua orientação em postos relevantes.
Já no Brasil procuram denominar o movimento que uniu a Nação como um golpe militar.
A iniciativa surgiu em Minas Gerais, com o governador Magalhães Pinto, que obteve o apoio dos militares. E logo contou com a adesão decisiva do governador de São Paulo, Adhemar de Barros, que conseguiu também a anuência dos militares. No Rio de Janeiro, os militares rapidamente aderiram ao movimento, que tinha as simpatias do governador Carlos Lacerda, o mais influente opositor do governo Jango Goulart.
Ninguém defendeu o governo que vinha desgastado com greves sucessivas, inflação, falta de crédito internacional. Toda a mídia, exceto o jornal Última Hora, apoiou o movimento.
Os militares eram eleitos pelo Congresso, onde tinha assento ilustres oposicionistas –, e foram cinco em 21 anos, quatro participantes do movimento em 64.
Nesse período, o Brasil deixou de ser a 46ª economia mundial para ser a oitava, tendo nos anos do presidente Emílio Médici registrado crescimento médio de 10%, o que a imprensa econômica chamou de “milagre brasileiro”.
Como sempre ocorre, as esquerdas usam e abusam da violência e posam de vítimas. No Brasil, não foi diferente, os membros da “luta armada” sequestraram embaixadores dos EUA, Alemanha e da Suíça, com mortes entre policiais, assaltavam bancos, matando inocentes e depois tentaram uma romântica guerrinha na Amazônia.
Nos embates, como sempre acontece ocorreram excessos. Mas o governo não poderia ficar indiferente. O resultado comprovado é que, nesses anos, morreram cerca de 500 militantes da luta armada e cerca de 200 militares, policiais e civis. Na Colômbia, o custo foi superior a cem mil vidas e, na Argentina, mais de 20 mil. E vale lembrar que, na época, o chamado Cone Sul foi prioridade de Fidel Castro.
O caso português é muito conhecido no Brasil. Estima-se em 30 mil famílias de empresários e profissionais liberais de relevo que foram morar e trabalhar no Rio e em São Paulo.
Uma cortina de silêncio, inexplicável nestes tempos de campanha eleitoral, não se lembrar que o 25 de Abril uniu os portugueses por muito pouco tempo. O país foi tomado de assalto por um grupo que ocupou fábricas, herdades, casas particulares e promoveu prisões arbitrárias. Muitos corruptos. Homens de bem eram presos e soltos sem saberem o motivo que não o confisco de suas empresas. Promoveu-se logo a entrega dos territórios ultramarinos a grupos comunistas, sem considerar uma pura e simples separação, respeitando os portugueses nascidos ou que optaram por viver ali, que também perderam o que levaram uma vida ou gerações para construírem.
Portugal acabou reagindo pela união dos democratas, inclusive socialistas como Mario Soares, que perceberam a dimensão do perigo.
Os maiores grupos econômicos foram destruídos, permanecendo apenas o espírito empreendedor das famílias, muitas que voltaram à relevância no país.
Os dois movimentos pertencem à história dos dois países, e os fatos inquestionáveis servem para avaliação das novas gerações.
Mexer em cicatrizes e promover versões fraudulentas não adianta a ninguém. A verdade prevalecerá.
Publicado em: Jornal O Diabo .pt 13/01/24