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A ideologia que substituiu o movimento comunista sediado em Moscou deslocou-se com nova roupagem para Pequim. Mas dentro da linha mais leninista do que marxista. A milenar sabedoria chinesa não briga com a realidade, não persevera no erro.
A queda do muro, como sempre previu o pensador brasileiro Roberto Campos, não se daria pelas armas nem pela revolução, mas sim pela falência do modelo econômico e seus cruéis reflexos na qualidade de vida dos povos. A falta de liberdade e do elementar direito de ir e vir afetariam menos do que a escassez de alimentos, vestuário, baixa qualidade e ausência de concorrência na oferta de bens de consumo no dia a dia da população. Os chineses concluíram que o modelo Mao Tsé-Tung, desde o vestuário ao livre pensar, estava com os dias contados com os avanços da tecnologia da comunicação e a impossibilidade de manter a população sem conhecer o que se passava no mundo. No mais, a experiência de décadas de comunismo na Rússia e países sob sua dominação não havia levado à construção do sonho marxista, e sim a uma vida pobre que agravava os efeitos da ausência da liberdade de ler, pensar, ter e viajar.
Assim é que o fim da União Soviética ocorreu sem guerra, sem revolução e apenas pela fadiga do sistema que foi incapaz de cumprir ao que se propunha. E logo a China partiu para fazer um comunismo pragmático, com progresso econômico e seus reflexos na satisfação popular. Dessa maneira, aquela imensa população continua cativa do regime do partido único, do estado policial, mas compensada pelo consumo e maior qualidade de vida. O capitalismo seria a chave do progresso, da riqueza, e poderia conviver com a ditadura do partido. Pelo menos por mais algum tempo.
Em poucas décadas, a economia se tonou a segunda do mundo, acumulando reservas que a fazem a maior credora dos EUA, ainda líder na economia e no comércio pelo poderoso mercado interno e qualidade tecnológica. E vão comprando empresas pelo mundo capitalista.
Consolidada a economia poderosa, era necessário voltar a formar um eixo político e ideológico com a velha parceira Rússia, também vivendo um capitalismo com ditadura e corrupção, e surgiu o novo modelo que ocupa a pauta dos países de cultura judaico-cristã, na Europa e nas Américas.
Voltando aos ensinamentos de Lenine, mais importante na relevância do comunismo do que Marx, criou-se uma versão adaptada ao mundo contemporâneo a orientar os órfãos do comunismo, que conquistou fatias do pensamento ocidental explorando ressentimentos de toda ordem, frustrações, inveja e luta de classes, agora substituída por diferentes frentes, além da econômica. A divisão nas sociedades passou a ser de fundo racial, de opção sexual e de negação da religião, dentro da definição do mentor maior de que esta “é o ópio dos povos”.
As prioridades foram definidas e estão em andamento; a busca do poder nos países mais vulneráveis pelo voto e não mais pela revolução através do combate à família, propriedade, moral cristã e a presença no palco das decisões de militares. Afinal, o comunismo foi barrado no século passado pelos militares que defenderam as investidas em Espanha, Portugal, Brasil, Argentina, Chile e muitos países latino-americanos, até na
França e Itália no pós-guerra, quando estes se uniram a religiosos e agentes econômicos privados desarmados.
O domínio das mídias e do mundo intelectual dá ampla cobertura a manter a verdade histórica longe do conhecimento popular. O fracasso de Cuba é o exemplo maior, pois não se divulga que os indicadores sociais e econômicos eram superiores dos atuais quando da vitória de Fidel, até hoje romanceada e exaltado nas democracias. Muito menos na crise energética e na oferta de alimentos. Uma população magra por imposição da escassez e não por inspiração estética ou de saúde.
As novas gerações são doutrinadas nas escolas e o povo impregnado pelas mensagens de artistas e textos publicados. Ocorre uma tímida, mas promissora reação, prejudicada pela omissão das antigas elites que abriram espaços para um populismo sem base filosófica, mas que tem o discurso que o povo quer ouvir por mais segurança pública, melhores empregos – e salários – e combate à corrupção.
Outro ingrediente para minar classes trabalhadoras empreendedoras, que trabalham e empreendem, é o inchaço dos estados, com despesas atribuídas ao “social” que desestimulam o emprego, geram uma economia informal e violência urbana.
Enfim, a humanidade parece ter chegado ao anunciado ponto bíblico da luta do mal contra o bem, fazendo de ingênuos cidadãos reféns de uma ideologia que a única coisa que sabe proporcionar são guerras, divisões, ódios, destruição de valores éticos e morais e promover o atraso na ciência voltada para fins bélicos e não humanitários. Vide a demonização da indústria farmacêutica que investe na pesquisa e obtém ganhos para a saúde de milhões de pessoas.
Parece que nada nos resta senão orar!
Publicado em: Jornal Diabo.pt 01/11/25
