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O Brasil deve enfrentar grave crise na economia e com reflexos políticos intensos antes do final do ano. Não é difícil prever as consequências de um trato hostil ao investimento alimentado pelo populismo eleitoreiro que tradicionalmente infelicita a América Latina.
O fato de possuir um robusto mercado interno, em função da população de 220 milhões de habitantes e estar entre os três maiores produtores e exportadores de produtos agrícolas, não terá a força suficiente para evitar um caos na economia, previsto pela nata dos economistas.
Não pode prosperar uma economia com juros entre os maiores do mundo, asfixiando as empresas sem condições de suportarem a rolagem da dívida. Agrava a carga fiscal, também exagerada, em torno de 35% do PIB, retirando a competitividade da indústria, já prejudicada com a baixa produtividade da mão de obra, que é um quarto da norte-americana.
O governo, transcorrido mais da metade do mandato, já mostrou que não quer controlar os gastos, muito menos estancar os prejuízos de empresas estatais. No caso da Petrobras, a lucratividade vem caindo pelo controle do preço dos combustíveis e o investimento está comprometido pela necessidade de distribuir dividendos para atender o caixa do estado.
A insegurança jurídica intimida o investidor interno, que prefere colocar sua poupança no mercado financeiro, e assusta o externo. No ano passado, só na área laboral foram mais de dois milhões de processos na Justiça do Trabalho. O Judiciário no Brasil tem um custo na relação ao PIB pouco maior do que o dobro do mesmo gasto na União Europeia.
Avanços na tecnologia no setor industrial são tímidos, assim como a qualidade da mão de obra sem preparo para atividades no mundo digital. Algumas empresas estrangeiras se sentem prejudicadas pela burocracia ou por decisões judiciais cercadas de suspeições. Duas grandes empresas italianas provocaram o governo de seu país a uma manifestação formal de preocupação. São muitas as multinacionais que estão deixando o país. A inflação pode chegar a oito por cento.
O presidente Lula da Silva, ao constatar a perda de aceitação popular refletida nas recentes sondagens, trocou sua área de comunicação e deu início a um intenso projeto que passou a ocupar o seu tempo. Sua agenda é voltada para entrevistas a rádios e televisões e reuniões com presidentes de câmaras, que são mais de cinco mil.
A dificuldade de ter maioria no Congresso Nacional faz com que a agenda política também ocupe as atenções do governo, composto por 38 ministérios. Mas a insistência na pauta de esquerda para um Parlamento conservador alimenta uma crise permanente. E o tempo passa…
A crise política torna-se inevitável não apenas como decorrência da inflação e da insatisfação com a segurança pública como pela proximidade do ano eleitoral de 2026, com sucessão presidencial, nos governos estaduais e Congresso Nacional. Lula da Silva estará com 80 anos e não tem outro nome competitivo nos quadros da esquerda, e o fracasso do governo retira a possibilidade de uma candidatura sem o carisma do presidente.
A situação só não é mais grave pela presença em cena do ex-presidente Bolsonaro, desgastado, podendo ser preso a qualquer momento, mas com incrível liderança popular. Mas o alto grau de rejeição acaba sustentando o grupo liderado por Lula da Silva. Fracassando as articulações para aprovação de uma anistia que beneficie o ex-presidente, pode surgir um nome que reúna as forças mais à direita e podendo ganhar.
A política externa equivocada é outro complicador. A ligação do Brasil com os países hostis aos EUA de Trump certamente é perigosa. Os jornalistas aliados de Lula revelam animosidade crescente.
A opinião pública, as classes médias e os trabalhadores estão cansados de tanta política, pouco trabalho e nenhum resultado.
Muito difícil, com todos estes fatos inquestionáveis, o Brasil escapar da crise prevista para este ano.
Quem viver verá!
Publicado em: Jornal Diabo.pt 22/02/25