Quem tem a oportunidade de passar dois meses na Europa, acompanhando a política e a economia, lendo os jornais, inclusive econômicos, percebe que o nosso país é o grande ausente, em todos os sentidos.
Este ano estivemos no noticiário, na maior parte das vezes de forma incorreta, pela posse do presidente Jair Bolsonaro, depois, com melhor tratamento, na missão em Davos, agora, com a tragédia em Minas. Tudo justifica a grande mexida no Itamaraty, que precisa ser mais atuante e objetivo na divulgação do país e na agenda econômica.
A leitura da publicidade das grandes agências de turismo, omite o Brasil, embora ofereça pacotes para a América Latina, com destaque para República Dominicana, Chile e Peru. E, no comércio, chega a constranger o fato de empresas do porte da Harrods, de Londres, ter em seu folder a oferta de entrega em 57 países, inclusive muitos no nosso continente, omitindo o Brasil. Na França, ocorre o mesmo, tendo o responsável pelo setor no Au Bom Marche informado que a burocracia e impostos tornavam a operação inviável. Talvez, neste isolamento, resida a decisão do ministro Paulo Guedes de baixar tarifas e desburocratizar o comércio, agilizando a liberação aduaneira.
No setor cultural, nossa presença se limita ao permanente sucesso das músicas de Antônio Carlos Jobim, nas rádios, nos aeroportos, em bares etc. A literatura se restringe a Portugal e a Espanha. Foi-seu o tempo em que Jorge Amado, Paulo Coelho, Guilherme Figueiredo eram presentes nas livrarias. E, em Portugal, a presença forte de duas televisões brasileiras, além de uma comunidade de mais de 150 mil brasileiros , garantir mercado, para os artistas que se apresentam com grande frequência e sucesso.
Produtos brasileiros raros, como as sandálias Havaianas, muitas frutas do Vale do São Francisco, como mamão papaia, o normal, e manga. Mas a banana é quase sempre da Colômbia, Equador, Costa Rica e Guatemala. Precisamos melhorar o perfil das nossas exportações, concentradas no agronegócio e na mineração.
Quem acompanha a vida brasileira, por negócios, por ter vivido entre nós, considera que esta é a última chance de nos tornarmos a potência econômica com ganhos sociais que podemos ser. Um governo com respaldo popular, legitimidade eleitoral e quadros eficientes pode promover as reformas estruturais –, mas, principalmente, instalar a filosofia defendida pelo presidente de abrir o país ao investidor. O país é rico, mas gasta mal o que arrecada e tem sido incapaz de aumentar o número de contribuintes, e não os impostos.