Verdadeira exploração ideológica as interpretações publicadas sobre a Península Ibérica durante a II Guerra Mundial e, em especial, a importância de Espanha e Portugal como rota de fuga dos judeus. Alguns diplomatas muito elogiados, portugueses e brasileiros, ajudaram com coragem, mas sabendo que as restrições de seus países eram “para inglês ver”. Nenhum dos governos fez restrições para valer.
Até 1939, todos os países tinham relações com a Alemanha. Havia, inclusive, no início da guerra, uma percepção de que Hitler poderia sair vencedor. Assim, os dois países, com grandes identidades com a Itália, latina, católica e solidária, ficaram neutros. A mais, ambos os países estavam em fase de reconstrução, com economia débil e, portanto, não podiam assumir posições de confronto. O que, aliás, nem o Vaticano, criado dez anos antes por Mussolini, fez.
Uma cortina de silêncio ou ênfase para as restrições prevalece. Portugal fez o que pôde, apenas não tinha condições de receber grande número de refugiados, pois não tinha como acolher. Mesmo assim, foram milhares de famílias que partiram de Lisboa para a América e América do Sul.
Salazar, muito católico, sempre foi contra a política antissemita de Hitler, mas, graças a boas relações diplomáticas, não só vendeu muita coisa, numa época em que estas divisas eram o próprio ar para o país respirar, como usou de seu prestígio no sentido de que a Rainha Amélia, residente em Versalhes, não tivesse mais sua casa usada por oficiais mas continuasse a ser suprida de mantimentos. O governo do Brasil fazia o jogo de dificultar, mas recebia milhares de judeus. O país só entrou na guerra em 1942.
Franco foi mais longe. Alegou, pessoalmente, a um Hitler irado que havia um decreto do General Primo de Rivera, ídolo dos militares que havia governado com mão forte a Espanha por delegação de Afonso XIII, que garantia o passaporte espanhol a todos os judeus sefarditas e que ele não poderia revogar. Foi nesta ocasião que Hitler teria afirmado que preferia uma dor de dentes a ter de encontrar Franco novamente.
E a Argentina, que sempre foi ligada a Madrid, estava entre os países que mais acolhiam famílias fugidas do horror nazi. Mas os implacáveis esquerdistas procuram sempre colocar Salazar, Franco e Getúlio Vargas como os que criaram dificuldades aos judeus ameaçados. No entanto, estes foram perseguidos na França de Vichy e na URSS, inclusive nas operações de “limpeza de burgueses”, promovidas por Estaline.
Tema pouco explorado pelos “estudiosos” em relação à II Guerra foi o massacre da Polônia, de judeus, inclusive, no final da guerra, pela omissão criminosa dos russos, estacionados na fronteira e surdos aos apelos dramáticos da Inglaterra. Estaline deu ordens para que deixassem os alemães liquidarem o Exército, composto de nobres e católicos e pelos judeus alistados. Além da inexplicável omissão dos aliados em dar prioridade a bombardear as ferrovias que levavam judeus para os campos de concentração, libertos apenas nas últimas semanas da guerra.
A comunidade israelita, entretanto, sabe do valor do papel exercido pelos governos da Espanha, Portugal, EUA, Brasil e Argentina para salvar milhares de vidas. Hoje, os judeus, plenamente integrados em diferentes países, formam um grupo estimado em apenas quinze milhões. Mas são recordistas de prêmios Nobel, notáveis na literatura e nas finanças. E, por fim, não se pode esquecer que, considerando os “cristãos novos”, os países ibero-americanos, na verdade, são judaico-cristãos.
Artigo Jornal O Diabo – Portugal/Lisboa 22/05/18