O presidente Jair Bolsonaro tem repetido que o Brasil condena as sanções à Rússia e Belarus, pois o país depende muito do potássio comprado destes países para atender à demanda de fertilizantes. Verdade parcial, pois o país dispõe de estoques para este ano, pode aumentar um pouco sua produção no curto prazo e até ser autossuficiente no médio, caso o governo consiga alterar a lei das reservas indígenas, onde estão as reservas do mineral do país. A proposta é de a exploração industrial pagar um percentual aos índios, mas, mesmo assim, as esquerdas fazem barulho no Parlamento e na mídia contra as mudanças. Embora a diplomacia brasileira e grande parte da sociedade estejam chocadas com a postura do país, contrariando sua tradição de formar com aliados tradicionais, que são os países da Europa e mais os EUA, o presidente não recua nas suas declarações, que não justificam esta quebra de princípios de respeito à autodeterminação dos povos e na condenação de agressões como a que assistimos. Bolsonaro procura explorar a importância do agronegócio no Brasil, um dos maiores do mundo.
A opinião pública mundial desconhece a dimensão da importância do meio rural brasileiro no mundo, onde, a cada cinco famílias, uma consome algum dos produtos em que o país é campeão na produção e comercialização, como os casos da soja, açúcar, café, suco de laranja e proteína animal entre outros.. Nos EUA, maior consumo de carne per capita do mundo, dois dos cinco maiores frigoríficos americanos são brasileiros.
As dez maiores empresas voltadas para a produção agrícola e pecuária do Brasil, nos estados de Goiás, Mato Grosso e Tocantins, possuem uma área perto do tamanho da Holanda.
A fazenda São Marcelo, por exemplo, é referência mundial na qualidade, produtividade, respeito ao meio ambiente e gestão de pessoal, sendo uma das cinco maiores, controlada pela família Defforey, ex-acionistas do Grupo Carrefour. A Nova Piratininga, a maior em terras contínuas do Brasil, é do tamanho de toda a cidade do Rio de Janeiro ou de Nova York, possui aeroporto e rede interna de estradas. E só em gado possui mais de 130 mil cabeças de Nelore e Nelore cruzado com Angus. O Grupo Bom Futuro, com 32 fazendas na região, além da soja, trigo, algodão e do gado, possui produção própria de sementes de soja e algodão para consumo e venda, além de atuar na piscicultura com cinco espécies em área correspondente a 400 campos de futebol.
Claro que a guerra afeta o setor, mas os preços subiram muito e compensariam a perda de produtividade, se a guerra demorar muito tempo ou se o país não agir rápido para explorar as reservas de potássio, que são imensas.
A última safra brasileira foi superior a 250 milhões de toneladas, a metade na soja, não tendo sido um pouco maior pela baixa ocorrência de chuvas. O que não acontece este ano, quando tem chovido e a perspectiva é que se chegue a 280 milhões de toneladas.
O aspecto político deste crescimento relevante nos últimos cinco anos se deve a paz no campo, desde a queda da presidente Dilma. Nos governos Temer e Bolsonaro, acabaram as invasões que eram fomentadas pelos governos do PT, o que permitiu, inclusive, investimentos estrangeiros na atividade.
Aumentam as preocupações com a possibilidade de uma eleição presidencial ser decidida entre a volta de Lula, que já anunciou desfazer privatizações e concessões, anular a reforma laboral e aumentar impostos sobre lucros, dividendos e rendas, e o desastrado Bolsonaro, despreparado e que perdeu a confiança da sociedade mais culta e produtiva pelo negativismo em face a pandemia e agora com esta posição constrangedora na guerra provocada pela Rússia, que ele denomina de ” neutralidade” e de restrições as sanções econômicas.
Publicado em: Jornal Diabo/Portugal 18/03/22