O que vigorou em Portugal, de 20 a 74, teve apenas o nome de Estado Novo, mas foi o regime do pensamento e ação de um homem. Foi o salazarismo, que nasceu e morreu com seu criador, uma vez que, nos quatro anos que separam o seu fim da morte de António Salazar, não vingou um programa para reformular a política ultramarina, inclusive pela falta de apoio das grandes potências, como os EUA. Na verdade, Portugal queria era impedir que a URSS entrasse e dominasse os territórios, como acabou por ocorrer e, no caso angolano, com lamentáveis perdas de vidas em prolongada guerra civil e o abandono de uma população portuguesa, espoliada e deportada. Salazar deixou de herança a lembrança do homem honesto, modesto e dedicado a devolver a paz a um país que não conseguia sair de crises, com sofrimento de seu povo. Pegou-o dominado pela miséria e o deixou saindo da pobreza.
Os chamados regimes de direita, para barrar a agitação comunista e tentativa de tomada do poder, nos anos 1930, em países como Itália, Portugal e Espanha, não tinham ideologia, e sim líderes. O Fascismo não era mais do que o culto a Mussolini, que empolgou o mundo com a reconstrução da Itália, as obras públicas, os avanços sociais e econômicos. Perdeu-se na política externa ao, sem outra opção, se entregar a Hitler. Poderia ter ficado equidistante como seus amigos da Península Ibérica. Mas pesou muito a influência esquerdista em países como França e Inglaterra, no distanciamento de Roma, assim como dos EUA, com o governo Roosevelt sob forte ação esquerdista e infiltração comunista de fato.
Aos EUA, ele chegou a mandar seu filho Bruno – que morreu na guerra – pedir uma aliança, tendo como base “Nova York ser a segunda cidade italiana”. Ao que parece, Eleonor Roosevelt, muito à esquerda, impediu. Morreu Mussolini, executado friamente, em 30 de abril de 1945, pelos comunistas e, com ele, acabou o Fascismo. O legado do período foram as obras, a segurança pública e o atendimento aos menos favorecidos, com as leis laborais, os bairros populares e a entrega de terras a agricultores para atender Roma. Não existe fascismo na Itália, o que há é o saudosismo da ordem e do progresso.
Na Espanha, a Falange foi uma fachada para a implantação do franquismo, que, consolidado, acabou com os movimentos com fundamentos ideológicos, com prioridade a recuperação da economia, a união do país ameaçado pelo projeto soviético da União das Repúblicas Socialistas Ibéricas, que, inclusive, incluía Portugal. O projeto, na Espanha, sobrevive e ganha força neste governo. Morre Franco, acaba o regime e a monarquia e os remanescentes do franquismo não conseguiram deter o revanchismo, que hoje revolta parte dos espanhóis e espanta os que gostam da Espanha. Atitudes de mesquinharia e ódios, sob uma lamentável indiferença da sociedade organizada, em que a retirada do túmulo de Franco do Vale de Los Caídos é símbolo perfeito. Nem a Igreja, que foi violada, reclamou.
A própria França, que teve regime de direita apenas em Vichy, com o Marechal Pétain, reclama os valores de uma linha de pensamento que dá prioridade à ordem, à segurança, ao progresso e a uma administração pública austera. Parte dos franceses considera de direita o gaullismo, que a salvou por duas vezes, em nome da ordem. Este estilo de governar influiu na América Latina, com Vargas, no Brasil, e Perón, na Argentina.
A esquerda anda enlouquecida com o saudosismo que toma conta das sociedades em muitos países, reagindo, enquanto é tempo, a uma dispersão pela influência eleitoral de uma imigração divorciada de seus valores históricos, religiosos e culturais.
Não se busca projetos nem ideologias. Mas, sim, lideranças com estes propósitos.