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É proibido defender pessoas e fatos históricos que não sejam “politicamente corretos”, mesmo que parte significativa dos povos pensem de forma diferente. A cumplicidade explícita ou pela omissão com fatos gritantes de agressão aos direitos humanos, às liberdades e aos direitos adquiridos imobiliza qualquer reação possível no curto prazo.
Na Espanha, por exemplo, supõe-se que parte da população guarde boas recordações e sejam reconhecidas aos anos pós-guerra civil, que evitou a incorporação do país ao domínio soviético. Franco resistiu à comunização do país e suas consequências, como a divisão para formar a União das Repúblicas Socialistas Ibéricas sonhadas por Estaline. E mais, os comunistas e anarquistas executaram cerca de dez mil religiosos, incendiaram mais de cem igrejas e conventos. Pode-se supor, portanto, que Franco não seja execrado pela maioria do país. No entanto, nem seu túmulo foi respeitado, numa afronta que teve a cumplicidade do Vaticano, pois ele estava numa basílica que é considerada território do Vaticano na concordata. Ruas de Madrid ficaram sem o nome de franquistas – inclusive de um ilustre médico que teve o nome retirado por Franco constar entre seus clientes. O General José Moscardó, Conde Alcázar de Toledo, herói da resistência do Alacázar de Toledo, reverenciado por muitos espanhóis até hoje, teve seu nome arrancado de uma avenida na capital. Já somam, só em Madrid, mais de cem logradouros atingidos pela lei do ódio, revanchismo e ressentimento.
Impossível negar que António Salazar seja até hoje, e apesar da campanha sistemática de acusações ao “ditador”, uma referência dos portugueses. Mas arrancaram seu nome de pontes, escolas e ruas. Não se pode falar dele, nem dos partidos de direita. Resiste no Rio de Janeiro, no modesto bairro popular de Bangu, uma pequena rua com seu nome, mas seu busto está no porão do Real Gabinete Português de Leitura.
Diante de tudo isso, silêncio total. Pusilânime postura de líderes que se dizem de direita e, portanto, afinados com o saudosismo presente em relação ao homem público que governou quase meio século o país. Uma vergonha o nome de Salazar não voltar a escolas, ruas, postos de saúde, passados os anos do entulho do 25 de Abril. Boa pauta para Isaltino Morais, que gosta de ousar.
Na segunda guerra foi Espanha e Portugal a mais relevante proteção e acolhimento aos judeus. Espanha deu passaporte a todos os sefarditas e Portugal acolheu milhares. Recentemente, em palestra no Grêmio Literário, em Lisboa, o Professor Oscar Mata detalhou a ação pessoal de Salazar no resgate na Áustria do grande economista liberal Ludwig von Mises, para chegar a Lisboa.
No Brasil, são frequentes as investidas, mas ainda tem sido possível barrar essas iniciativas na maioria das vezes. A narrativa contra a Revolução de 64, porém, estão na ordem do dia do governo de Lula da Silva. Querem apagar da memória e da História que o Brasil era a 46ª economia mundial em 64 e, 21 anos depois, os militares entregaram o país como a oitava economia; hoje, o Brasil é a 12ª. A premiação da atriz Fernanda Torres, com o Globo de Ouro, por seu trabalho num filme político romanceando a vida e o desaparecimento de um parlamentar militante de esquerda, ligado à luta armada que o país viveu por alguns anos, provocou nova onda de referências “aos anos de chumbo”, “ao regime totalitário”. O Brasil viveu num regime autoritário e nunca totalitário; com eleições parlamentares e regionais para executivo indiretas em boa parte do tempo, mas imprensa com ligeira censura e pleno respeito ao direito de ir e vir, à propriedade, à ordem pública. E progresso, elevação do padrão de vida do povo.
A democracia, o capitalismo progressista, a ordem pública e a luta pela preservação de países acossados por uma invasão silenciosa de pessoas de outras culturas teriam melhor defesa se a memória dos homens que respeitaram e preservaram no passado os valores do mundo ocidental, judaico-cristão, fosse defendida. Vivemos um tempo de carência de líderes, de ideias. E de caráter.
Publicado em: Jornal Diabo.pt 15/03/25