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Virou moda aspirantes a altos cargos eletivos dizer que não são políticos. E, com certa hipocrisia, tem sido comum o uso de uma pretensa distância da política ser proclamada como grande qualidade. Fraude, ignorância e certa arrogância.
Não existe democracia sem políticos. E a democracia tem se enfraquecido em muitos países, como no nosso, pelo distanciamento de suas elites empresariais e intelectuais da vida pública. Esta atitude abriu espaço para aventureiros, fariseus, que exploram a fé, a desilusão popular com tanto abandono do espírito público que marcou as gerações anteriores. Por outro lado, criticam o Judiciário por uma suposta postura política, que, na verdade, se dá pela omissão do Poder Legislativo, que fica na baixa política e não legisla para tirar o país da dependência dos tribunais.
Grandes nomes do Supremo Tribunal na República foram políticos com presença no Legislativo. Assim como Rui Barbosa e Epitácio Pessoa, os deputados marcantes como Adauto Lúcio Cardoso, Bilac Pinto, Oscar Corrêa, Aliomar Baleeiro, Nelson Jobim, Hermes Lima e Paulo Brossard. Notáveis juristas, advogados, tiveram passagem pelas urnas, como Bernardo Cabral, o relator da Constituição de 88, o professor Cotrim Neto e San Tiago Dantas, entre outros. Todos ilibados e sem confundir o compromisso com a lei com opções políticas ou ideológicas.
A crise que vivemos pela falta de harmonia entre poderes tem parcela de culpa no Legislativo e na sociedade, que não cobra o exercício do dever constitucional de legislar, que poderia definir muitas das questões que o Supremo Tribunal acabou por ocupar por causa do vazio da omissão dos políticos. O Supremo Tribunal não precisava passar de interpretar a lei, função que lhe cabe, para criar leis. E o Executivo não poderia confrontar – e insultar – magistrados, nem promover aliança tática unindo dois poderes contra um, quando deveria ser independente.
Trazer de volta as chamadas forças vivas da nação, empresários, profissionais liberais, intelectuais, formadores de opinião que não sejam radicais, e sim alheios a este clima perverso de confronto que vivemos e compromete o futuro com ordem e progresso, é medida que se impõe. Afinal, todos terão muito a perder com o derretimento do país, que tem problemas que pedem soluções enquanto é tempo.
A mais é bom lembrar que político com mandato foi votado. Para os parlamentares serem melhores os eleitores precisam ser criteriosos.
Novos tempos, novos atores!
Publicado em: jornal Correio da Manhã 24/10/25
