Existe um aspecto negativo e grave nestes anos de polarização que o Brasil vive desde a eleição de Bolsonaro em 2018, que é a perda da cordialidade como uma marca da formação do povo brasileiro. O debate ideológico ou político deixou de ser um exercício democrático e de cidadania, para se tornar troca de insultos, manifestações de ódio e intolerância.
Toda uma tradição com bases sólidas na história do Brasil, referendada por estudiosos como Buarque de Holanda, que falava do “homem cordial”, a Gilberto Freyre, que dava como prova da cordialidade na formação das elites uma relação com o trabalho servil sem as fissuras ocorridas nos Estados Unidos, por exemplo.
Mas não é apenas a questão política do momento que marca a perda da cordialidade, mas desde o final dos anos 80 a questão da violência urbana e da criminalidade disseminadas no país quebra a herança da prática de delitos menos violentos. Eram batedores de carteira, descuidistas, jogo ilegal, que agiam sem violência e sem armas. Nada de organizações criminosas que cresceram na violência, armadas e explorando moradores de comunidades – favelas – indefesos. Foi consequência talvez da perda do respeito à autoridade constituída que perdurou pelos anos do chamado período militar, quando as polícias exibiam bom padrão de disciplina e honestidade no exercício de suas funções.
No campo político, passamos a viver politização e polarização inéditas na história pátria, com ênfase à ideologia e ao comportamento pessoal das lideranças como Bolsonaro e Lula, ambos no mesmo patamar de postura, de palavreado, de círculo mais íntimo. Ambos cultuam como tática político-eleitoral o confronto com tudo e com todos. Bolsonaro soube entregar a máquina pública a pessoas do padrão de Paulo Guedes, Tereza Cristina, Tarcísio de Freitas e mais alguns competentes aos quais deu autonomia e, por tal, o saldo de seu governo foi positivo em termos de economia, gestão e austeridade, com baixa corrupção. Já Lula, no seu loteamento político-partidário, não consegue administrar e compromete a economia por inibir o investimento privado e não ter um programa de realizações. O que anda é em função das parcerias concedidas ao setor privado, como estradas e aeroportos.
Lula gosta de falar mal “dos ricos” que, afinal, fazem circular a riqueza e geram empregos com investimentos, de agredir dirigentes de outros países e de dar palpites em questões distantes da vida nacional. E fica neste discurso de explorar ressentimentos.
Não se pode prever o resultado de 2026, mas sim que, se a disputa for entre estes dois polos, o país será ingovernável e com sérias consequências econômicas, sociais e políticas.
Por isso, cresce na sociedade o nem um nem outro, na busca do bom senso e do equilíbrio, restabelecendo a cordialidade perdida.
Que assim seja!
Publicado em: Jornal O Dia 29/09/25