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Logo após a renúncia de Jânio Quadros, o notável jornalista David Nasser publicou em “O Cruzeiro “artigo com o título acima. E vale lembrar daquele momento vivido pela democracia brasileira inexplicável à primeira vista, pois foi a eleição depois do governo JK, que apesar dos problemas com a inflação decorrente com os gastos na construção de Brasília, foi positivo, realizador e em clima de paz. JK anistiou dois movimentos de oficiais da Aeronáutica.
Seis milhões de votos foram dados a Jânio, a maior votação da história, quase o dobro do recebido por JK cinco anos antes. A votação foi, salvo outras avaliações, fruto da combinação do talento do ator Jânio com a liderança carismática de Carlos Lacerda, que lançou o maior partido de oposição, UDN, a apoiar o candidato de outra sigla, deixando de lado a opção agregadora de uma ampla aliança, que seria a de Juraci Magalhães. Existe a versão, de veracidade provável, que a eleição de Jânio foi facilitada pela frágil candidatura Lott, um militar desastrado na campanha, inspirada e apoiada por JK, que facilitaria a eleição de Jânio, que seria um governo desastroso a lhe abrir caminhos para a volta em 65. Não previu a renúncia em 61e a Revolução em 64.
A questão dos seis milhões de loucos se verificava, pois o comportamento atípico do eleito não era uma surpresa. Vinha de uma longa série de fatos insólitos, contraditórios, surpreendentes, imponderáveis como prefeito, governador e candidato. A quantidade de episódios que mostravam a irresponsabilidade do político que conseguiu empolgar as elites do país confirmam a privação de sentido do eleitorado. Havia, além do Marechal Lott, muito manipulado pelas esquerdas, a candidatura de Adhemar de Barros, que vinha de uma experiência vitoriosa como interventor e governador de São Paulo e prefeito da capital. Homem que acreditava na livre empresa, com formação de médico na Alemanha e na França, filho do então maior pecuarista paulista, Manuel de Barros.
Para os que se interessam em mergulhar na história, recomendo a leitura do livro encontrado para compra na Internet, na Biblioteca Virtual, “A Renúncia de Jânio – um depoimento”, do notável jornalista Carlos Castello Branco.
O depoimento foi do então jovem jornalista que foi assessor de imprensa de Jânio, ligadíssimo a José Aparecido, e pela sua formação de homem cordial e raro analista isento, o livro ficou para ser publicado após sua morte. Castelinho, como era conhecido, assinou a mais importante coluna da imprensa brasileira, “Coisas da Política”, na página 2 do “Jornal do Brasil”, e foi merecidamente eleito para a Academia Brasileira de Letras.
Um retrato de como um fenômeno eleitoral pode influir – e prejudicar – um país com as dimensões do Brasil.
Triste é que foram seis milhões de loucos e seis décadas depois foram cem milhões de irresponsáveis que votaram mal na opção que o destino ofereceu, Lula ou Bolsonaro, em que não havia o bom, talvez o menos pior.
O Brasil precisa deixar de ser um ‘país de loucos’ e o “país do futuro “se livrando do elitismo e demagogia dos populistas que deformam o pensamento do povo.
Publicado em: Jornal O Diabo.pt 22/06/24