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As pessoas razoavelmente bem-informadas sabem – embora a maioria não saiba, mesmo nas classes médias – é que portugueses, espanhóis e brasileiros têm forte presença judaica nas suas origens comuns. Uma constatação muito fácil de ser confirmada.
Os católicos, na sua maioria, não sabem, mas o chamado Velho Testamento é a Torá dos judeus e que foi a Moisés, muito antes de Cristo, que Deus ditou os dez mandamentos, comuns às duas religiões.
No Brasil, “descobriu-se” que o povo é formado em boa parte por judeus em função da legislação vigente na Península Ibérica de se conceder cidadania a descendentes de sefarditas, transformados em cristãos novos ou marranos. Os primeiros pela conversão forçada e os segundos por manterem secretamente a profissão de fé originária.
Hoje a população mundial de judeus anda na casa dos 15 milhões, com tendência a diminuir em função do relaxamento nas uniões entre judeus nos casamentos pelas novas gerações. Mas o acervo cultural, religioso, permanece vivo, com lições de sabedoria milenar no sofrido povo. No Brasil, seriam em torno de cem mil, menos do que na Argentina, onde inclusive existe um Grande Rabinato, inexistente no Brasil.
A comunidade israelita é significativa no comércio, na indústria e na Medicina. São relevantes no Rio, São Paulo e no Rio Grande do Sul, onde está a aristocracia, por ser a mais antiga comunidade. Foi D. Pedro II quem trouxe os primeiros judeus para o Rio Grande do Sul, em resgate financiado no século XIX pelos barões Rothschild e Hirsch. Deste grupo, oriundos da Bessarábia, surgiram famílias relevantes na vida empresarial do Brasil, como os Steinbruch, Maissonave, Iochpe, Teruszkin e Birmann, entre outras. Com presença de liderança no Rio e em São Paulo, no comércio de joias, com a H. Stern, Amsterdam-Sauer e Vivara, no mundo editorial com a Companhia das Letras e a Intrínseca. O hospital Albert Einstein, de São Paulo, está entre os três melhores do Brasil. Muitos sefarditas vieram do Marrocos.
No setor de papel e celulose, em que o Brasil tem boa presença mundial, são as famílias Klabin-Lafer e Feffer que dominam a área, sendo que a Suzano seria a maior papeleira do mundo.
O ressurgimento na nova geração do culto às tradições é fenômeno visível em Portugal e no Brasil. Agora mesmo vem de ser lançado um interessante livro do jovem advogado, jurista e professor Gustavo Binenbojm sobre o Lord Jonathan Sacks, o rabino chefe do Reino Unido, sábio que marcou o judaísmo no ocidente contemporâneo e que legou importante obra. Em “O Rabino do Mundo – A sabedoria judaica compartilhada – o autor conta a história do passado e a liga aos tempos modernos, chamando a atenção para regras e comportamentos muito atuais. Aliás, Binenbojm tem obra sobre a necessidade de Israel ter uma Constituição, pois até hoje não completou as regras básicas de sua institucionalização, o que provoca crises como as que envolve o atual governo e o Judiciário, que realmente, na prática, tem poderes quase que absolutos na vida do país, que é a única democracia na região. Bibi, portanto, tem razão.
A partir desta descoberta para fins da obtenção do passaporte da União Europeia, são muitas as famílias que avançam no conhecimento e na integração com o judaísmo. Esta ligação forte na formação da sociedade portuguesa e da espanhola explica também o papel dos dois governos na II Guerra no acolhimento aos judeus e a união no Brasil das forças vivas da nacionalidade, onde inclusive a ligação pelo casamento é comum entre israelitas e sírio-libaneses, o que ocorre principalmente em São Paulo.
Antissemitismo no Brasil inexiste, embora a atual política externa seja simpatizante da causa palestina como já se manifestou o Presidente Lula da Silva. Os judeus, aliás, não tem nada contra a criação do estado palestino, claro que fora de suas fronteiras
Publicado em : Jornal O Diabo Portugal 29/06/2023