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O notável intelectual brasileiro Ricardo Cravo Albin, talvez o maior musicólogo vivo, criador do Museu da Imagem e do Som, no Rio de Janeiro, e dono de um excepcional acervo no seu instituto cultural, vai lançar monumental obra que coordenou com a ajuda de um bom grupo de historiadores e pesquisadores sobre o Imperador Pedro I como músico, que será uma referência no que os 200 anos proporciona.
O livro certamente faz parte de um natural revisão biográfica do Imperador do Brasil e Rei de Portugal, que viveu apenas 36 anos, mas com uma das mais marcantes presenças na história do Brasil, como de Portugal. Até aqui, vinha prevalecendo, sem origem identificada, a exploração dos relacionamentos fora do casamento do filho de D. João VI, incluindo a grande paixão que o ligou a Marquesa de Santos, com quem teve inúmeros filhos e, antes, sua boemia no Rio de Janeiro. Detalhes de pouca importância para quem promoveu a Independência do Brasil, foi genro do Imperador da Áustria, no primeiro casamento com D. Leopoldina – irmã de Maria Luiza, esposa de Napoleão – e depois com D. Amélia, neta de Napoleão, filha que era de filho de Josefina, adotado pela pelo Imperador. Depois, ao deixar o Brasil, foi defender o trono português para a sua filha, que veio a sucedê-lo como D. Maria II, marcando o século na história de Portugal.
A formação já no Brasil, onde chegou aos nove anos, não impediu uma sólida cultura, o gosto pela leitura e a música, cuja formação foi confiada ao Padre José Maurício Nunes Garcia, um mulato que foi o primeiro músico brasileiro, que veio a se juntar aos grandes nomes trazidos por D. João VI, como Marcos Portugal. A obra de Pedro I não se resume ao Hino da Independência, mas a uma relação com óperas e Te Deum, publicada recentemente pelo Dicionário Biográfico Caravelas, editado em 2012 em Lisboa. D. Pedro tocava piano, clarineta e viola. E tinha também o gosto pela música popular, aproveitando sons e ritmos trazidos pelos escravos de África.
D. João VI trouxe para o Brasil sua preciosa coleção de partituras, aproveitadas nas aulas ao então príncipe herdeiro e a sua mulher, que era boa pianista. O acervo das partituras das composições no Brasil está guardado na antiga Sé do Rio, onde estão fragmentos dos restos de Pedro Álvares Cabral e D. João VI foi coroado, os filhos e netos batizados e os casamentos realizados até a Proclamação da República, em 1889. A Biblioteca Nacional de Lisboa também possui inúmeras partituras guardadas.
Acompanha o livro um CD com gravações diversas de peças de autoria do Imperador do Brasil e Rei de Portugal. Os ensaios que formam o livro, ricamente ilustrado, são assinados por oito intelectuais brasileiros de valor. E certamente vai se constituir num marco na apreciação da vida e obra do ilustre personagem da história dos dois países.
O diplomata Sergio Corrêa da Costa, que foi da Academia Brasileira e autor de um livro sobre D. Pedro, o definiu bem como “uma personalidade fascinante”
Publicado em : jornal Diabo.pt 02/08/22