O que se passa no Brasil atual parece obra de ficção histórica. Muito difícil de entender e mais ainda de explicar. Faz crer que o destino dos povos e nações pode ser comparado ao das pessoas, quando a teoria é diferente na prática.
Apesar dos problemas gerados pela pandemia e pela guerra, o Brasil poderia estar vivendo anos dourados. Seu desempenho tem sido superior ao das nações mais desenvolvidas do mundo.
A vacinação está perto dos 80% da população, com mais de 300 milhões de doses aplicadas. Os problemas de suprimento de fertilizantes em função da guerra foram administrados com competência e a safra dos próximos meses, garantida nos insumos.
No social, o governo vem amparando com mensalidades em dinheiro mais de 50 milhões de brasileiros, evitando a fome nos lares menos favorecidos. O desemprego caiu, estando abaixo de dez milhões, quando eram 12 milhões, no ano passado. Há paz no campo, sem invasões de propriedades e atos de violência do passado recente. Diminuíram muito as greves, que tanto prejudicaram a população como aos próprios trabalhadores, pois greves políticas ou não justificadas, como no passado, inibem a geração de empregos.
A economia é um fenômeno. Uma das maiores reservas financeiras do mundo, com mais de 260 mil milhões de dólares, com saldo positivo, caso pagas todas as dívidas públicas e privadas, com sobra de mais de 80 mil milhões. O câmbio está valorizado este ano em mais de 10% frente ao dólar, ao euro e à libra. O crescimento, acima do previsto pelo Banco Mundial e o FMI.
Mas tem sempre um outro lado da moeda. O Brasil vive o pesadelo de um presidente que pensa bem no atacado e formou boa equipe de ministros, mas tem no seu entorno gente de má qualidade intelectual e de educação. Tem lhe custado problemas este tipo de amizades. E uma postura pessoal que ignora a liturgia natural do cargo que ocupa. Mais parece “um macaco em casa de louças”, tal a capacidade de gerar atritos e polêmicas, com prejuízo a boas iniciativas que acabam sendo barradas nos tribunais e sempre sob severa crítica da mídia em geral – a qual hostiliza de maneira agressiva. Bolsonaro nunca esboçou o menor gesto de conciliação, não sabe o que é habilidade e não quer colaboradores independentes, mas subservientes.
Isolado internacionalmente, tem diálogo, ao que se sabe, apenas com a Rússia e a Hungria. Na invasão da Ucrânia, teve postura dúbia, contrariando os diplomatas e as tradições históricas do Brasil. Foi o último governo a reconhecer a vitória de Biden. Sua falta de categoria vai ao ponto de ter feiro comentários sobre a pretensa feiura da primeira-dama da França. O recente incidente com o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, mostra bem a sua falta de educação. Por mais que o dirigente português pudesse ter evitado uma visita ao opositor do presidente da República, a reação foi grosseira. Contrastando com a postura do desconvidado.
Na pandemia, desgastou-se querendo impor uso da cloroquina, e da Ivermectina, sem nenhuma base científica, o que o levou a demitir dois ministros da saúde, para colocar no lugar um militar obediente, que acabou por ter de substituir tal o desgaste. Não se vacinou, ironizou a vacina, apesar de o governo ter agido bem.
A gravidade deste quadro de desgaste do presidente da República é que sua falta de preparo não o deixa ver que foi eleito com o voto anti-PT e que agora Lula pode ser eleito pelo voto anti-Bolsonaro.
Os anos PT traumatizaram o Brasil pela corrupção, pela estagnação na economia e pelo sucateamento do setor industrial, que, diante das políticas de esquerda, deixou de investir na qualidade e produtividade. A indústria encolheu sua presença no PIB brasileiro. Lula já afirmou que pode anular concessões de parcerias e privatizações, quer acabar com o teto de gastos – violado por Bolsonaro com a cumplicidade do Congresso – e a responsabilidade fiscal. No mais, os casos de corrupção deixaram prejuízos de grande monta, como no caso da Petrobras quase falida e que chegou a ser a empresa mais endividada do mundo. O governo Bolsonaro, em três anos, zerou este passivo excessivo e a empresa vem dando lucro. Mesmo assim, ele pressiona para conter os preços dos combustíveis, contrariando as leis de mercado.
Um país do tamanho do Brasil, em população, em economia, em território, tendo seu futuro dependendo de uma disputa que reúne, de um lado, um grupo ideologicamente perigoso e com histórico de corrupção em alto grau e, do outro, a reeleição de um presidente que vem dando mostras de despreparo para a função com comportamento que nega o bom senso.
A desastrada reunião com os embaixadores foi mais um tiro no pé. Os EUA e Reino unido manifestaram confiança no sistema eletronico brasileiro, o presidente da Camara, Artur Lira, aliado do Presidente, disse que as urnas são confiáveis. O Presidente do Senado Rodolfo Pacheco e o Procurador Geral da República também manifestaram confiança no sistema.
Conta com o passado de Lula para se eleger!
Publicado em : Jornal Diabo.pt 04/08/22