A história universal e a do Brasil não são diferentes; estão cheias de casos de traição, ingratidão na vida pública. A política se tornou campo fértil para este tipo de comportamento de tal forma que o presidente Ronald Reagan, certa vez, disse que “a política era a segunda carreira mais antiga do mundo, com muitas semelhanças com a mais antiga”.
Nestes tempos, temos assistido a fatos lamentáveis de oportunismo, deslealdade, frieza e total ausência de escrúpulos e de interesse público. Terreno lodoso para este clima de radicalização, que separa pessoas, famílias, em embates desprovidos de bom senso, equilíbrio e compromisso com a moderação, que deve ser prioridade na vida pública. O falecido prefeito Bruno Covas, de São Paulo, era referência da nova geração que cultiva a moderação e o diálogo. Por isso, sua morte foi muito sentida.
Hoje, parece difícil um político de verdade – não um serviçal alçado a mandato ocasional – ser agraciado com a famosa frase de Getúlio Vargas a Danton Coelho de que este era “o amigo certo das horas incertas”. Com esta citação, Danton foi eleito e reeleito deputado federal no antigo Distrito Federal, a cidade do Rio de Janeiro.
A vida de Danton Coelho foi rica e multifacetada. Foi jogador de futebol, no Internacional de Porto Alegre, goleiro de relevância no futebol local, veio para o Rio com a Revolução de 30, foi logo para o gabinete de Oswaldo Aranha, exerceu função diplomática, foi ministro do Trabalho e deputado em dois mandatos. Danton foi testemunha do acordo Getúlio-Adhemar, firmado em São Borja, de que o segundo seria o candidato, em 55, mas, com a morte de Vargas, o PTB não cumpriu o combinado. O compromisso de Danton com a lealdade era tal que ele deixou o partido para ser o vice na chapa do estadista paulista. Foi acompanhado pelo senador Caiado de Castro, digno General Chefe da Casa Militar de Vargas, sabedor do compromisso.
Danton teve também passagem pela imprensa, como presidente do Última Hora, jornal de Samuel Wainer. O Rio teve políticos desta estirpe, consagrados pela lealdade, o que os fazem bem lembrados, como os casos de Amaral Peixoto, Nelson Carneiro e Negrão de Lima, que compensaram com seus exemplos aqueles que tiveram “instantes de amizade”, alguns amargando um final de vida na solidão e no ostracismo provocado pela repulsa de seus contemporâneos.
Que esta nova geração busque referência em Danton Coelho e não em ordinários não lembrados, pois são muitos, embora o Rio tenha um muito emblemático na frieza da ingratidão e do oportunismo.
É preciso cuidado com os que trocam de partido como de camisa!
Publicado em : Correio da Manhã 28/05/2021