Getting your Trinity Audio player ready...
|
Os mais sérios e conceituados economistas brasileiros estão de pleno acordo que a direção da política econômica está correta, que o caminho da retomada do crescimento e do emprego é mesmo a linha liberal e privatista do ministro Paulo Guedes. Completar as reformas é essencial e o Congresso parece convencido disso, independentemente de os projetos serem do governo ou não.
Mas a retomada deve ser lenta e gradual. O tamanho do rombo causado pelos 14 anos de esquerda no poder foi muito maior do que se poderia imaginar. Não se trata da questão da corrupção, que em economia do tamanho da do Brasil, a oitava do mundo, seria uma gota d’água. O estrago foi a política socialista de mais impostos, burocracia, hostilidade ao capital e déficit público crescente. O Estado quase dobrou de tamanho em termos de despesas com pessoal; uma verdadeira orgia. O fluxo de capital para investimentos foi o menor da história, considerando-se os 14 anos. A indústria, com imensa capacidade ociosa, vai demorar a alcançar os patamares de 2003.
Embora o governo esteja na direção correta e este ano ainda venderá significativos ativos, a situação política continua tensa com as intervenções do presidente e familiares. São muitas as defecções em seu próprio partido, a começar pela líder na Câmara e deputada de mais de um milhão de votos, Joice Hasselmann, que ameaça sair. O partido está muito dividido e pode afetar a constituição da base parlamentar de que o governo carece para aprovar projetos.
Também o clima na opinião pública em geral, especialmente nos formadores de opinião, anda tenso com a percepção de que o Judiciário marcha para anular a Operação Lava-Jato, unanimidade entre os brasileiros revoltados com o tamanho da corrupção e com a impunidade reinante até bem pouco. Muita pressão dos juízes da Suprema Corte, em que oito dos onze membros foram nomeados nos governos do PT. Teme-se, inclusive, pela anulação de julgamentos já feitos, através de decisão que pode ter efeito retroativo. Esta é a pauta do momento. Uma nova legislação coloca os magistrados sujeitos a responder por crimes de responsabilidade ao decretarem prisões preventivas no Primeiro Grau que possam ser consideradas abusivas. Tudo muito subjetivo, como se verifica.
Tanto no setor público como no privado não faltam grandes projetos na área da infraestrutura. No setor de energia, a mistura do biodiesel vai passar de 10% para 11%, o que garante o escoamento da produção nacional. E, a cada ano, vai crescer 1%, até os 25%. Um novo projeto anunciado para construção de cinco usinas nucleares nos próximos 20 anos e o crescimento do parque solar e eólico garantem energia para a retomada do crescimento. Na teoria, as coisas andam bem.
O balanço do primeiro ano de governo, em janeiro, e a situação política nestes três meses podem sugerir um avanço maior ou menor no combate à crise. O desemprego caiu meio ponto percentual, o que é muito pouco.
Agora, a perplexidade ficou por conta da irrequieta economista portuguesa, vivendo no Brasil há 65 anos, Maria da Conceição Tavares, ainda ativa nos seus 89 anos, que, depois de uma vida combatendo as privatizações, escreveu um ensaio em que revela ser pragmática e realista, o que a esquerda brasileira não consegue ser, e que defende a venda de estatais para pagar dívida e garantir novos investimentos, mesmo que com a presença do Estado num primeiro momento. As palavras de Conceição Tavares, que exerceu um mandato de deputada federal pelo PT, consolidam a impressão de que direção do ministro Paulo Guedes está correta.
O problema fica por conta da velocidade da recuperação. E, claro, dos humores do presidente que fala demais, das intervenções do Judiciário e dos humores do Parlamento.