O feriado no 25 de abril, iniciativa que certamente não é unanimidade entre os portugueses, faz lembrar alguns aspectos do movimento dos militares com forte influência do Partido Comunista Português. E isso pode ser verificado pela rapidez com que o Sr. Álvaro Cunhal desembarcou em Lisboa e ditou ordens.
O mais gritante, talvez, seja a cortina de silêncio que é imposta pela mídia em geral e pelos políticos, no que se refere à simples menção ao nome do Professor António de Oliveira Salazar – apesar de este ter governado o país por 40 anos e, segundo se sabe, não cometeu nenhum deslize em sua gestão. Se não tivesse tido o apoio da sociedade, não teria permanecido tanto tempo, se supõe.
É que milhares de portugueses foram alvo de perseguições, perda do emprego e confisco de bens, tudo sob o nome de “saneado”. Com o tempo e a volta da ordem democrática depois de 1985, principalmente, a maioria prosseguiu suas vidas. Muitos, no entanto, acabaram morrendo no exílio, como o empresário Manuel Vinhas e o próprio primeiro-ministro Marcelo Caetano.
Observa-se que quem permaneceu “saneado”, depois de morto, foi o Professor Salazar, como o povo gosta de chamá-lo, comprovando que ele tem um lugar de honra na memória de boa parte dos portugueses. Nem o nome da ponte que ousou construir lhe devolveram. Nenhuma escola ou via tem o seu nome – vale lembrar que, no Rio de Janeiro, há uma rua em sua homenagem no bairro de Bangu. Estranho que não se recorde que morreu pobre, depois de levar uma vida espartana. Ou seja, nada comparado ao que se assiste hoje.
Embora alguns livros o tratem com o devido respeito, como os de Jaime Nogueira Pinto, as livrarias estão repletas de obras de qualidade duvidosa a repetir relatos sobre a ação da Polícia Política, que, em qualquer tempo e em todos os lugares, comete seus excessos. Ainda assim, neste caso, é apenas uma gota d’água perto dos benefícios proporcionados ao povo português, ao prestígio internacional do país, a paz e a ordem que Salazar garantiu por décadas. Isso sem contar as obras realizadas que permitiram o crescimento do país.
A última novidade é que ele não gozava da simpatia ou da estima pessoal de colaboradores. Mas, na verdade, era exigente quanto à austeridade de seus colaboradores. Nunca buscou o aplauso de quem quer que fosse, mas, sim, o respeito dos contemporâneos e o julgamento da história, que já parece consolidado positivamente.
Volta e meia surge esse destilar de ressentimentos e ódios, certamente alimentados pelo inconformismo de sua sombra permanecer presente tão positivamente na vida de Portugal. Claro que, no mundo de hoje, sua orientação estaria defasada e nem se pensa em recriar uma liderança à sua imagem e semelhança. Mas seria saudável que, em todo arco político, seu exemplo de retidão ética e moral fosse imitado. E que, finalmente, se desse espaço aos portugueses que o reverenciam.
Uma democracia não se constrói com revanchismo menor. O movimento de abril pode abrigar todas as homenagens que seus partidários julgam merecer, mas não às custas de “sanear” os grandes homens do passado, uns mais conhecidos do que outros.
Artigo Jornal O Diabo – Portugal/Lisboa 24/04/18