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Quem acompanha o noticiário policial no Rio de Janeiro conhece a nomenclatura dos chefes do jogo do bicho e sabe que são quase todos filhos ou sobrinhos de contraventores, no melhor estilo da máfia na Itália, como nos EUA.
Na política brasileira, até aqui, esta transferência familiar sempre se deu em função da vocação dos herdeiros, nascidos e criados em meio à política. Mas sempre em eleições proporcionais, raramente em majoritárias e para executivos em qualquer nível. Afinal, lideranças políticas com voto devem se voltar para atender o interesse público e não engordar a renda familiar com mandatos. É preciso conhecer a atuação parlamentar ou ter o mínimo de experiência e preparo para o cargo executivo.
A prática do voto deveria obedecer a critérios de responsabilidade, contemplando o votado em função de suas propostas e qualidades. Votar em filho, mulher, é arriscar tornar o voto inútil para a sociedade, assim como votar em personalidades do mundo artístico ou desportivo. A democracia não deve ser apequenada com este tipo de motivação ou apelação para o voto. O candidato deve herdar qualidades do pai e não votos.
A vantagem desta desilusão com os políticos é que pode permitir uma maior responsabilidade do eleitor, que, na verdade, é o responsável pela eleição de cada um dos eleitos. Ninguém chega a cargos eletivos sem voto.
A reforma eleitoral e política se impõe como necessária para construir uma democracia mais responsável, pois a volta da cláusula de barreira serve para diminuir o número de partidos e o voto distrital misto, para melhorar a qualidade da representação. Talvez, ainda, aproveitar a proposta do saudoso Francisco Dornelles de “deputados nacionais”, que seriam votados em todo país por uma lista de notáveis, e os candidatos seriam apresentados pelos partidos, mas os eleitos seriam os mais votados pelo eleitorado nacional.
Falar em democracia com cenas como as da ocupação da mesa da Câmara por deputados que mais pareciam militantes ou milicianos fica difícil. E a culpa é tanto do eleitor como dos protagonistas da palhaçada.
Formar chapas com parentes de lideranças vivas, mortas ou presas e apequenar a democracia.
Sucessão pelo nascimento só nas monarquias em que os governantes são educados para governar. Improvisar beira o ridículo.
Publicado em: Correio da Manhã 28/11
