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Francisco Balsemão foi, sem a menor dúvida, um dos dez portugueses mais relevantes da segunda metade do século XX. E por tal, agora, ao morrer aos 88 anos, foi alvo de elogios de todos os segmentos do pensamento português.
Um dos elogios veio do intelectual e diplomata Francisco Seixas da Costa, que acentuou o respeito que ele fez por merecer não só pelos companheiros de ideias, mas também daqueles que pensavam de maneira diferente.
Balsemão entrou na política como deputado ainda no final do regime salazarista, liderando um movimento que juntou meia dúzia de personalidades que entraram para a história, como Sá Carneiro, na defesa da abertura democrática, já em lento andamento.
Após o 25 de abril, ao perceber que o movimento foi desvirtuado pela forte influência comunista, foi juntar-se à esquerda democrática, que tinha como referência Mário Soares, e chegou a ocupar o cargo de primeiro-ministro.
Como empresário e jornalista, fundou o primeiro semanário moderno português, Expresso, que alinhou as classes médias do país pela transição do regime. Depois, o jornal se tornou carro-chefe de uma série de publicações e, por fim, a criação da primeira televisão privada, consolidada, inclusive, com acordo operacional com a Globo do Brasil.
Balsemão foi o último dos moicanos. Uma geração cujas atividades profissionais ou empresariais não interferiam no idealismo e no patriotismo.
Portugal perdeu um grande filho, cujo exemplo pode ajudar na volta de uma elite de qualidade à vida pública.
O impacto da morte, as exéquias reunindo o que existe de melhor no país confirmam sua relevância, coroada pela desambição pessoal.
Não quiz carreira na política, onde cumpriu um dever e uma missão.
Este tipo de patriota é que anda fazendo falta aqui e lá.
Publicado em: jornal Correio da Manhã 31/10/25
